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AS GATAS

AS GATAS

 

                                                             

As Gatas foi um conjunto vocal feminino que se tornou referência nas gravações dos discos, dos mais diversos artistas nacionais e até internacionais. O grupo participou da vocalização de todos os discos de samba-enredo do carnaval do Rio de Janeiro, de 1968 até o ano de 2005.

Tudo começou no conjunto vocal misto Os Rouxinóis do Rio, que participou do show de Carlos Machado em uma homenagem a Lamartine Babo, intitulado “O teu cabelo não nega” e foi apresentado no Golden Room do Hotel Copacabana Palace, em 1963. A formação tinha as cantoras Affonsina Pires, nome de batismo de Dinorah Lemos (1931 - 2006) e Zenilda Barroso (1935 - 2012), que fundariam As Gatas anos depois. Completavam os Rouxinóis do Rio os cantores Inácio Gomes Dias Filho, Jair Pinto de Avelar, Mário Machado e Raul Moreno e mais a cantora Maria Terezinha Gonçalves Dias. O septeto gravou três discos dedicados a músicas de carnaval, como marchinhas e marchas-rancho. Em 1965, participaram do LP “Rio Carnaval 1565-1965 – Rio de Janeiro a janeiro – Carnaval de 400 Janeiros”, lançado pela Copacabana em homenagem ao quarto centenário da cidade do Rio de Janeiro.

Pouco tempo depois Os Rouxinóis do Rio se dissolveram e Dinorah e Zenilda fundaram então As Gatas em 1968, juntamente com a cantora Eurídice. Alegando problemas de saúde, Eurídice logo se afastou. A composição do grupo sofreu diversas mudanças, tendo em sua formação, em momentos distintos, outras cantoras, como Nilza, Marlene e Noemi até a chegada de Francisca Francinete Germano, a Francineth (1940), em 1970.

O grupo As Gatas venceu quase todos os concursos de músicas de Carnaval de que participou. O primeiro deles em 1968, na TV Tupi, promovido pelo Conselho Superior de MPB do Museu da Imagem e do Som (MIS), com o samba “Bloco de Sujos”, de Luiz Antônio e Luiz Reis, um dos maiores sucessos do carnaval de 1969. Em seguida gravaram com os Vocalistas Tropicais o disco “Carnaval da Pilantragem 69”, no qual interpretaram pérolas do cancioneiro carnavalesco como “Cidade Maravilhosa” (André Filho), “Tristeza” (Haroldo Lobo e Niltinho), “O teu cabelo não nega” (Irmãos Valença e Lamartine Babo), “Mulata Yê Yê Yê” (João Roberto Kelly), e outros tantos sucessos do Carnaval no ritmo da “pilantragem”, estilo musical consagrado por Wilson Simonal.

Em 1970, as Gatas participaram do 5º Festival Internacional da Canção (FIC), organizado pela Rede Globo, cantando com o maestro Erlon Chaves a música “Eu quero mocotó”, de Jorge Ben, que fez bastante sucesso na época e também causou muita polêmica. Ao subir no palco do FIC com sua Banda Veneno para a execução da música, Erlon, que era o presidente do júri internacional do festival, se atreveu a dançar cercado de várias bailarinas louras em trajes cor da pele e beijá-las na boca, em transmissão ao vivo pela TV. A ousadia custou ao maestro uma prisão por “transgressão de costumes”.

As Gatas não se limitavam somente ao carnaval. O grupo transitava em todas as modalidades da música brasileira, enriquecendo a qualidade musical de diversos cantores. Consagrando uma carreira com mais de quatro décadas, além dos discos solo, participaram de gravações de discos como backing vocals de artistas de renome, dentre eles, Dalva de Oliveira, Emílio Santiago, Dorival Caymmi, Ney Lopes, Jorge Aragão, Chico Buarque, Zeca Pagodinho, Alceu Valença, Nat King Cole, Paul Simon, só para citar estrelas de uma constelação da mais alta grandeza.

O ano de 1983 marcou a saída de Francineth (após treze anos com o conjunto) e o ingresso de mais uma cantora que deixaria sua marca: Zélia Bastos (1941 - 2017). Assim o grupo manteve em sua formação definitiva.

Embora seguindo a carreira artística, as integrantes d’As Gatas sempre tiveram profissões fora da música. Zenilda trabalhou como garçonete de hospital e como profissional gráfica de um jornal de Niterói, Zélia foi esteticista e Dinorah trabalhou na Superintendência de Seguros Privados (Susep).

AS GATAS E O SAMBA-ENREDO

Em 1967, o samba-enredo que embalou o campeonato da Mangueira “O Mundo Encantado de Monteiro Lobato” (de Hélio Turco, Batista, Darcy, Jurandyr e Luiz) fez sucesso por todo o Brasil, em gravação de Eliana Pittman, em compacto simples pela Copacabana, e depois incluída em seu disco de carreira “É preciso cantar” (1966). Sérgio Cabral define a música como a que introduziu o samba-enredo no consumo. Com o excelente resultado em execução e vendas, algo inédito no gênero, o samba-enredo passou a gerar um enorme interesse por parte das gravadoras. O fato estimulou o lançamento, no final de 1967, dos sambas que seriam levados para a avenida no carnaval seguinte.

Foram lançados dois discos: o “Festival de Samba – gravado ao vivo nas quadras” (que reúne Mangueira, Império Serrano, Salgueiro, Vila Isabel, Unidos de Lucas, Portela e Mocidade Independente), pelo Selo Codil, e o “As dez grandes escolas cantam para a posteridade seus sambas de 1968”, gravado pelo Museu da Imagem e do Som. Neste disco, foram incluídos os sambas da Unidos de São Carlos, Império da Tijuca e Independentes do Leblon, que não estão no outro disco. Nas faixas os sambas são cantados só pelo intérprete na primeira passada, com a bateria e as “pastoras” entrando na segunda. As Gatas foram contratadas pelo MIS para fazer o coral em terça no disco, representando as pastoras das escolas.

O conjunto lançou oficialmente quatro álbuns e alguns compactos, sempre com um repertório repleto de sambas e músicas de carnaval. As Gatas também eram convidadas para auxiliar os intérpretes na avenida. A Beija-Flor de Nilópolis foi a escola que elas desfilaram pela primeira vez em 1977 e foi a agremiação onde cantaram com mais frequência, sendo apoio de Neguinho da Beija-Flor entre 1978 a 1983. Em 84, Neguinho preferiu promover seu irmão Nêgo como cantor de apoio. As garotas retornaram ao carro de som da Beija-Flor no ano seguinte, permanecendo na escola em 1986 e 1987. Em 1995 As Gatas retornam à Sapucaí fazendo coro na Vila Isabel, como apoio de Gera e Jorge Tropical.

As Gatas foram responsáveis pelo coral em todos os discos de sambas-enredo das escolas de samba do Rio de Janeiro entre o período de 1968 a 2006. Elas gravaram ainda discos de blocos de carnaval e diversas coletâneas do gênero ao longo de 40 anos de carreira.

Em 1993, o grupo participou da coletânea Escolas de Samba, da Sony Music, no CD dedicado aos melhores sambas do Salgueiro, dividindo a interpretação com o Conjunto Nosso Samba na faixa “A História do Carnaval” (de autoria de Geraldo Babão), do carnaval de 1965. Foi uma homenagem que o produtor Rildo Hora prestou aos dois ícones que mais participaram de gravações de discos de carnaval no Brasil, sendo que Dinorah, Zenilda e haviam cantado no disco “Rio Carnaval 1565-1965 – Rio de Janeiro a Janeiro – Carnaval de 400 Janeiros”, que marcou o quarto centenário da cidade do Rio de Janeiro.

Na década de 90, o grupo já tinha recebido uma nova integrante, Sílvia Nara Lemos (1966), filha da fundadora Dinorah, falecida em 2006. As Gatas participaram da trilha sonora do filme de Caca Diegues, “Orfeu” (1999). Francineth Germano retornou ao grupo no ano de 2005, juntando-se às antigas colegas Zenilda Barroso e Zélia Bastos.

A última formação oficial do conjunto As Gatas tinha Nara, Zenilda, Zélia e Francineth, que deram segmento ao trabalho exercido no decorrer de 40 anos de trajetória.

CARREIRAS SOLO

Dinorah Lemos, mineira de Pitangui, antes de enveredar para a música, trabalhou na roça, foi babá, faxineira, balconista e caixa de supermercado. Ingressou no serviço público federal, na Susep, quando já era cantora. Iniciou a carreira artística no começo da década de 1960, como cantora de rádio e depois formou o grupo vocal Os Rouxinóis do Rio. Em 1964 gravou pelo selo RCA Victor um compacto simples com sambas, acompanhada pelo Trio 3D (Antônio Adolfo no piano, Carlos Monjardim no baixo e Nelsinho Serra na batera).

Ela também era a líder do coral dos programas Discoteca e Buzina do Chacrinha. Dinorah era componente da Unidos de Vila Isabel. Em 1988, quando a Vila se sagrou campeã de 88, fundou a escola de samba mirim Herdeiros da Vila, da qual foi presidente durante 17 anos, desenvolvendo a educação social através de oficinas de música, dança e ofícios carnavalescos junto à comunidade local. A cantora foi homenageada pela Herdeiros da Vila com o enredo “De mineira à carioca, o sonho se tomou realidade”, no carnaval de 2006. Também ajudou a fundar a escola de samba mirim Mangueira do Amanhã juntamente com a cantora Alcione. Dinorah foi presidente de honra da Associação das Escolas de Samba Mirins do Rio de Janeiro.

Em 1998, recebeu o prêmio Estandarte de Ouro do jornal O Globo na categoria “Personalidade”. No começo dos anos 2000 trabalhou como backing vocal da banda do cantor Zeca Pagodinho. Seu último trabalho foi junto com as companheiras do grupo As Gatas, no espetáculo “Carnaval de todos os tempos” apresentado no Circo Voador, em 2006, poucos meses antes de seu falecimento, de câncer na bexiga. Sua vida foi marcada por prêmios e mais prêmios como “O Negro no Carnaval” e “Troféu Beija-Flor”.

Zenilda Barroso, última integrante da formação original d’As Gatas, participou do grupo desde o início, mas teve que se afastar a partir de 1997 por problemas de saúde. Mesmo doente, Zenilda gravou como backing vocal nos discos com os sambas de enredo das escolas de samba até 2008, atividade que realizou desde 1968.

Fez sua última turnê como integrante da banda do cantor Zeca Baleiro em 2004. Segundo seu filho Júlio Barroso, seu último trabalho oficial foi gravar duas faixas para o disco “Chico”, de Chico Buarque, lançado em 2011. A cantora tinha 78 anos quando teve um infarte, seguido de AVC. O sepultamento aconteceu no Cemitério Confraria Nossa Senhora da Conceição, no bairro de Barreto, em Niterói.

Francineth Germano nasceu em Santa Cruz de Inharé, interior do Rio Grande do Norte. Migrou muito jovem para o Rio de Janeiro, em busca de trabalho, se apresentando no “Calouros do Ary”, lendário programa de Ary Barroso. Em 1961, ingressou como crooner da orquestra de Moacyr Silva, na qual permaneceu durante seis anos gravando discos e fazendo shows. Teve como madrinha artística a cantora Elizeth Cardoso, que então a elegeu como sua sucessora, além de chamá-la de “Dama do samba”.

Em 1965, assim como suas futuras colega Dinorah e Zenilda, também cantou no celebrativo LP duplo em homenagem aos 400 anos da cidade do Rio. Francineth interpretou solo “Samba do Avião”, de Tom Jobim. Gravou o emblemático disco “Viva o Samba” (Copacabana, 1967), com as participações de Elizeth Cardoso, Cyro Monteiro e Roberto Silva, além das baterias de Portela, Mangueira, Império Serrano, Acadêmicos do Salgueiro e Unidos de Lucas.

A cantora (que gosta de ser chamada de Fran), foi responsável por interpretar a primeira composição de Dona Ivone Lara, “Amor Inesquecível”, e o clássico portelense “Tal dia é o batizado”, de Catoni, Jabolô e Valtenir. No início da década de 1970, passou a fazer parte d’As Gatas, gravando coro em praticamente todos os discos de todos os artistas da música brasileira. Ficou no grupo até 1982. No ano seguinte Fran foi contratada pela TV Manchete na qual permaneceu por dois anos. Pouco a pouco foi se afastando da carreira artística e chegou a ficar mais de vinte anos longe dos palcos e das gravações. Retornou às Gatas em 2005.

Dez anos depois, no ano de 2015, Fran fez um show com o grupo Batuqueiros e sua Gente, formado por jovens sambistas paulistas. Não parou mais e em 2018 lançou um CD independente lançado apenas nas plataformas digitais, que contou com a participação especial de Zeca Pagodinho.

A cantora carioca Zélia Bastos entrou n’As Gatas em 1983. Também fez backing vocal na banda de Zeca Pagodinho por mais de 15 anos, gravando coro em todos os seus álbuns, assim como grande parte dos discos de samba produzidos nos anos 80 e 90. Participou da última formação das Gatas, após a morte da fundadora Dinorah. Zélia faleceu em junho de 2017.
INÍCIO: O conjunto As Gatas foi fundado em 1967
1977 a 1983 – Beija-Flor de Nilópolis (apoio de Neguinho)
1985 a 1987 – Beija-Flor de Nilópolis (apoio de Neguinho)
1995 – Vila Isabel (apoio de Gera e Jorge Tropical)

PRÊMIO:
- Estandarte de Ouro 1998, Dinorah (Personalidade).


DISCOGRAFIA OS ROUXINÓIS DO RIO

• LP Isto é Lamartine (Copacabana, 1963)
• 78rpm Carnaval antigo / Pierrot (Selo Serenata, 1964)
• LP O rancho dos Rouxinóis (Copacabana, 1964)

DISCOGRAFIA DINORAH
• compacto simples Bossa Rosa, com as faixas Pot-pourri de sambas / Estátua de Estácio de Sá / Pot-pourri de sambas (RCA Victor, 1964)

DISCOGRAFIA AS GATAS:
• compacto simples Plac, Plac na Paróquia / Meu bloco tem que ganhar (Carvelle, 1969)
• compacto simples Você Tem Que Me Querer / O que o Homem Mandou (Caravelle, 1969)
• compacto simples Amarre o inimigo no cipó / Brasil Ano Dois Mil – samba enredo Beija-Flor 1974 (CID, 1974)
• compacto simples Tira A Butuca Da Nega / Vou De Onda Por Ai (Caravelle, 1969)
• LP Carnaval do Brasil – As Gatas, Vocalistas Tropicais, Barbosa da Silva e Coro do Joab (Enir, 1973)
• LP Levanta Poeira (Esquema, 1974)
• compacto simples Tamanco no Carnaval / O Caminho do Amor (Som Livre, 1975)
• LP VIII Concurso de músicas para o carnaval (1976)
• LP Sambas de Enredo dos Blocos Carnavalescos - Carnaval 1976 (Top Tape, 1976)
• LP Sambas de Enredo das Escolas de Samba do Grupo 2 (Top Tape, 1976)
• compacto simples Vovó e o Rei da Saturnália na Corte Egipciana – Beija-Flor 1977 / Banzo – União de Jacarepaguá (CBS, 1977)
• LP Carnaval 82 - As marchinhas estão de volta (1982)
• compacto simples Mestre Mundo / É Preciso Cantar (Top Tape, 1982)
• LP Turma do Pagode – As Gatas, Samba Som 7, Adelzonilton e Genaro (Polyfar/Philips,1985)
• CD Escolas de Sambas-Enredo Salgueiro – Coletânea Sony (1993)
• CD Trilha Sonora filme Orfeu (1999)

DISCOGRAFIA DE FRANCINETH:
• LP Sax de ouro - Zito Righi e Sua Orquestra (Musidisc, 1961)
 • LP Musidisc Bossa Nova - Participação (Musidisc, 1963)
• Convite à música Nº 3 - Francineth e Moacyr Silva e Sua Orquestra (Copacabana, 1964)
• 78rpm Eu Vou Chorar/Sangue Quente (Copacabana, 1965)
• LP 1565 / 1965 - Rio Carnaval - Participação – (Copacabana,1965)
• compacto simples Cambão / Viola do Moreno (Copacabana, 1965)
• LP Viva o samba! - Participação – (Copacabana, 1967)
• compacto simples Fim de Parceria / Canção em tom de Amor (Copacabana, 1969)
• compacto duplo Oração / Começou Assim / Melhor Assim / Tristeza Sem Fim (Copacabana, 1969)
• CD Francineth Canta Sucessos Populares (Independente, 2005)
• streaming Francineth & Batuqueiros e Sua Gente (Independente, 2019)

DISCOGRAFIA DE SAMBA ENREDO:
O Conjunto As Gatas foi responsável pelo coral nas gravações das faixas de todos os discos de sambas-enredo das escolas de samba do Rio de Janeiro entre o período de 1968 a 2006. O grupo também gravou discos de sambas de blocos de carnaval e diversas coletâneas do gênero ao longo de 40 anos de carreira.

MAIS FOTOS D'AS GATAS


As Gatas, em apresentação nos festival de música carnavalescas da TV Tupi, em 1968


Dinorah (à esq.) e Zenilda (de branco, ao centro), quando cantavam no grupo Os Rouxinóis do Rio (1963-1964)


As Gatas com a cantora Beth Carvalho (ao centro), em foto tirada nos anos 70


Capa de um dos discos solo de Dinorah, lançado em 1964


Dinorah, em reportagem no jornal O Globo, em 1997, quando já presidia a escola mirim Herdeiros da Vila. Foto: Marizilda Cruppe/Acervo O Globo


Capa de um compacto solo de Francineth, lançado em 1965


Francineth, a "Dama do Samba", lançou disco nas plataformas digitais em 2018 acompanhadas por sambistas de São Paulo. Foto: Vinicius Terror


O emblemático disco "Viva o Samba" (1967), com gravações de Elizeth Cardoso e baterias das escolas de samba


As Gatas quando desfilaram pela primeira vez na Beija-Flor, em 1977


As Gatas com Neguinho da Beija-Flor, no desfile de 1981


No carro de som com Neguinho, puxando "O mundo é uma bola", em 1986


O grupo vocal As Gatas em apresentação em 2003


Fran (à dir.), Zélia, Zenilda (de lilás) e Nara, filha da fundadora Dinorah. O inesquecível conjunto vocal As Gatas

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