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AROLDO SANTOS

AROLDO SANTOS

            

          

        Ano de nascimento: 1940

 

 

        Ano de falecimento: 1985

 

 


                                                     

             


Nascido em 27 de abril de 1940, no Morro da Mangueira, Aroldo Santos começou a cantar e sambar bem cedo na vida. Aos 10 anos, que ironia do destino, o autor do megassucesso “Batida de Limão”, vendia limão na feira, com molejo e eloquência, próprios de qualquer garoto negro que usa de sua peraltice para ganhar seu sustento. Começou a compor aos 12 anos, e logo ficou conhecido nas rodas de samba, por onde nasceu e por onde andou.

Quando mais tarde, foi carregador de sacos de batata, pedreiro, asfaltador de rua, pintor entre outras profissões braçais. Mas não demorou para perceber que sua força não estava só nos braços, mas na voz.

Seu umbigo ficou na Mangueira, mas Aroldo foi criado no Morro de São Carlos, o berço do samba, onde viveu por 24 anos.

Participou da fundação do Bloco Vai Quem Quer, onde começou como ritmista e vagou cantando por aí, por onde a turma lhe pedia: bares, tendas, bailes, festinhas e batizados. Na juventude, depois de ter feito mais de uma centena de músicas em parceria, dizia que compunha até dormindo. “É só arrumar uma mesa para fazer um acompanhamento e já sai alguma coisa”.

Como compositor e puxador de samba pertenceu a vários blocos carnavalescos: Vai Quem Quer, Acadêmicos do Catumbi (com o samba “Primeira vez”, que foi o seu debutar como autor em agremiações carnavalescas), também no Império do Pavão (bicampeão com “Baile das Rosas” e com “Histórias do Rei Baltazar”, de parceria com Dino); Independente do Pavãozinho (campeão com “Zumbi dos Palmares”), de parceria com Wilson Simonal do Cantagalo); Unidos do Cantagalo (onde apareceu com “Deixa comigo”); e posteriormente fez parte da ala dos compositores do Bafo da Onça.

Aroldo Santos constou como inscrito na Federação dos Blocos Carnavalescos do Estado do Rio de Janeiro como compositor do GRBC Unidos do Cantagalo.

Garboso, elegante e boêmio, os mais de um metro e oitenta de altura, sempre alinhados, era cobiçado pelas mulatas mais belas do metiê. Sua primeira união foi com Marihinha, com quem teve quatro filhos. Mas foi no Morro do Cantagalo, na zona sul carioca, que seu coração bateu mais forte: casou-se com a mulata Marlene, com quem completou a prole de 12 filhos, até onde se sabe. Como dizia Aroldo: “um time com reserva”.

Figura fácil no meio do samba, o negão das camisas listradas e calças no estilo, da voz firme mas aveludada, fazia parte do burburinho radiofônico.

Amigo de personalidades como Adelzon Alves, Carlos Imperial e Oswado Sargentelli, Aroldo reclamou, em 1967, a autoria da música “A praça”, aquela lançada por Ronnie Von e creditada a Carlos Imperial. Nunca foi provado a veracidade do plágio, ou se era um acerto entre amigos para divulgação da música, haja vista que as partes mantinham uma grande amizade e Carlos Imperial já se fazia conhecido como o “Imperador da Pilantragem”. Mas é fato de que a disputa ocupava as mídias e programas musicais e impulsionava a venda do disco.

Em parceria com seu velho amigo Murilo, gravou em 1970 dois sambas: “Tempo de criança”, juntamente com Adão dos Santos, e o “Gazeteiro”, com Eny Silva. Estas obras tiveram uma ótima aceitação no 1º Festival da Música da Favela e lhe rendeu o 3º lugar, cativando suas respectivas participações no LP que o evento gravou na época.

Vale frisar que Festival de Música da Favela condicionava as participações à representação de agremiações. Foi um empreendimento idealizado e coordenado pelo visionário Etevaldo Justino de Oliveira – então presidente da Federação das Associações de Favelas do Estado da Guanabara (FAFEG) – revelando muitos cartazes que hoje integram os quadros da música popular brasileira. Dedicado exclusivamente aos moradores das favelas cariocas, o evento cresceu ano a ano, movimentando na sua longa fase classificatória, milhares de pessoas.

Em 1972 gravou o samba “Amor, amor”, de autoria de Maria Luiza, filha de Carlos Imperial, que o bloco carnavalesco Bafo da Onça apresentou na avenida no carnaval de 1973. Participou também do álbum lançado pela Continental/Musicolor, Samba Enredo 73, interpretando “ABC do Carnaval”, de Gibi e Toco.

Em 1974 participou do LP Turma do Pagode, formada por sambistas cantores e compositores: Paulo Carcará, Zé Carlos, Guaraci, Pola Hyldon, Délcio Carvalho, Flávio Moreira, Ary do Cavaco, Neném da Cuíca, Marlene e Zélia, Janice e Edson Costa, e Osvaldo do Meier, todos contratados pela gravadora Philips. A turma do pagode foi formada pelo produtor Hyldon Souza. A empresa encarregou o grupo da divulgação do disco, era a condição para as possíveis próximas gravações acontecessem.

Na época, Aroldo Santos declarava: “Com o disco, ando meio desanimado. Só gravo em pau de sebo!” – uma espécie de long play produzido pelas gravadoras com diversos artistas e nenhum tratamento artístico, servindo apenas para cumprir a lei que rege a música nacional, e também para descarregar o imposto de renda das fábricas.

Figura conhecida nas rodas de samba, com sua voz firme, melódica e clara, passou cada vez mais a interpretar sambas em clubes e casas de show. Dizem até que supria honrosamente a ausência do difícil Jamelão, cujo estilo lembrava pela forma insinuante de cantar.

Vila, Casa de Bamba, Minerva realizaram a exposição de Aroldo Santos, que em 25 de abril de 1975, numa sexta-feira às vésperas de seu aniversário, teve seu LP solo lançado pela Top Tape, com o nome de “Até que enfim”, com músicas próprias ou com parceria com compositores do Morro do Cantagalo e São Carlos, além de interpretar sambas de Nelson Cavaquinho, Silas de Oliveira, Noca da Portela, Jorginho do Império, Gracia do Salgueiro, dentre outros. Aroldo Santos inaugurava ali o cast nacional da gravadora que foi muito importante para o samba, sobretudo nas décadas de 70 e 80. Levando consigo a voz do sambista mais humilde, o lançamento do disco de Aroldo significava uma retomada do que havia de mais nativo na nossa música, numa época em que o investimento das produtoras no samba se dava na maioria das vezes por artistas que não vivenciavam efetivamente o que cantavam.

Apesar de a música carro-chefe do LP “Até que enfim” ser a mesma que deu nome à obra, foi na “Batida de Limão” que Aroldo teve sua voz ecoada pelas rádios do país inteiro. A melodia, de fácil aceitação e ritmo alegre e descontraído, carregava na letra simples e na voz do morro, mesmo sendo uma obra bem comercial para a época.

“Batida de Limão”, com seu ritmo de samba-merengue, deu a Aroldo Santos sua projeção musical. Não seria leviano dizer que o cantor fez dos limões que a vida lhe deu uma batida que deixou todo mundo doidão. O próprio Aroldo disse nos bastidores que a música era um recado à onda hippie que se expandia na época: “corta essa bicho (...) limão é o maior barato (...)”. Uma mensagem para os usuários de drogas, especialmente os hippies, sem discriminá-los, dizendo que é melhor curtir batida de limão do que outras coisas mais pesadas. Por isso o verso “corta essa bicho”, que era uma forma de se comunicar com os hippies da época.

Nos discos de carnaval, Aroldo “Gogó de Ouro” botou voz no samba “O Negro de Ontem e de Hoje”, de autoria de João Cabral Bororó, pelo bloco carnavalesco Unidos do Cantagalo em 1975. Chegou a interpretar num compacto simples o memorável samba “Arte negra na legendária Bahia”, que a Unidos de São Carlos apresentou no carnaval de 1976. No mesmo ano, foi intérprete da União de Jacarepaguá, que obteve o 3º lugar do Grupo 2, com “Acalanto para Uiara”, de Norival Reis, Joel Menezes e Vicente Mattos.

Aliás, Norival Reis, o famoso Vavá da Portela, contava saborosas histórias sobre a gravação deste samba, que ganhou o Estandarte de Ouro no carnaval de 1976. Vavá era o produtor e engenheiro de som do disco de sambas enredo do Grupo 2 e dizia que Aroldo estava bastante nervoso na sessão de gravação e tinha dificuldades com os versos “canto / meu canto é o acalanto...”, pois em vez de cantar “acalanto”, cantava “alcalanto”. Vavá, que era um gênio dos estúdios, interrompeu diversas vezes quando Aroldo dizia “alcalanto”. Até que uma hora o produtor, conhecido por ser extremamente debochado, perdeu a paciência, suspendeu a sessão e disse: “Aroldo, vai no microfone e começa a cantar em ritmo de samba que você é um tremendo de um filho da p***”. Os dois caíram na gargalhada e após a descontração Aroldo finalmente conseguiu gravar corretamente a faixa.

Embora o primeiro disco solo tenha tido uma vendagem expressiva, Aroldo Santos não conseguiu deixar o barraco do Morro do Cantagalo. O desamparo da gravadora que muito lucrou com seu trabalho, e a questão dos direitos autorais mal pagos, sequer deu-lhe condições de concretizar seu desejo de mudar com a família para uma casa no asfalto.

Em 1976, Aroldo lançou seu segundo LP, Grito Negro, que apesar de toda a espetacular crítica dos meios de comunicação, não conseguiu alcançar o sucesso do primeiro. Em 1979, veio o terceiro trabalho fonográfico, Vendaval da Vida.

Em 1985, no dia 16 de abril, Dia Mundial da Voz, o Gogó de Ouro partia por problemas pulmonares. Foi uma partida até discreta, dada a importância do moço para o carnaval. Uma discrição justificada pelo turbilhão que o país vivia naquele ano, pois a hospitalização do presidente Tancredo Neves ocupava quase a totalidade dos noticiários.

Entre os 12 filhos, Aroldo Santos deixou o radialista André Gasparetty, além de Léo, José e Marquinhos, responsáveis pelo projeto Resgate do Samba, sediado no Complexo Cantagalo, Pavão e Pavãozinho, onde garimpam e zelam pela memória cultural da comunidade. 


Em 2022, será homenageado pela Alegria da Zona Sul, que desfilará na Série Prata na Intendente Magalhães com o enredo "
Até que Enfim... Aroldo Santos".

Início: Blocos carnavalescos da zona sul do Rio de Janeiro, como Império do Pavão, Independente do Pavãozinho, Acadêmicos do Catumbi e Vai Quem Quer, nos anos 60.
1972 e 1973 – Bafo da Onça
1974 a 1977 – Unidos do Cantagalo (intérprete principal)
1976 – Unidos de São Carlos (gravou o samba em um disco não oficial)
1976 – União de Jacarepaguá (intérprete principal, junto com Jairo Espingarda)

GRITO DE GUERRA: Não tinha um grito de guerra específico. No disco de 1976, lançou "Esta é a União de Jacarepaguá!"

CACOS DE EMPOLGAÇÃO: “simbora gente”; “que beleza”; “vai, vai, vai, vai”; “nossa senhora”; “que beleza, lindo, lindo lindo”; “no gogó”.

DISCOGRAFIA SOLO:

LP Até que enfim (Top Tape, 1975)
LP Grito Negro (Top Tape, 1976)
Compacto simples – “Água na cabeça / Pau no gato” (Top Tape, 1976)
LP Vendaval da Vida (Tapecar, 1978)
Compacto simples – “Serenou / Sua Presença” (K-Tel, 1981)

DISCOGRAFIA DE CARNAVAL / COLETÂNEAS

LP 1º Festival de Favelas (Caravelle, 1970)
LP Carnaval – 73 (Musicolor/Continental, 1972)
LP Turma do Pagode (Polyfar/Philips, 1973)
LP Sambas-Enredo 73 (Musicolor/Continental, 1973)
LP Escolas de Samba Enredo 75 (Tapecar, 1974)
LP Blocos de Enredo RJ 1975 – faixa Unidos do Cantagalo (Tapecar, 1974)
LP Sambas de Enredo das Escolas de Samba do Grupo 2 Carnaval 1976 – faixa União de Jacarepaguá (AESCRJ/Top Tape, 1975)
Compacto simples “Arte Negra na Legendária Bahia”, samba enredo da Unidos de São Carlos 1976 / “Seu colorido é tradição” (Tapecar, 1975)
LP Carnaval 78 (RCA Camden, 1977)
LP Samba, sambão (GTA Records – Itália, 1978)
LP Samba dá saudade (Som Livre, 1981)
LP/CD Samba que te quero sempre 2 (Som Livre, 1992)

MAIS FOTOS DE AROLDO SANTOS


Além da voz grave e firme, Aroldo era conhecido por gostar de vestir camisas listradas


Capa do primeiro disco, no qual consta o megahit "Batida de Limão"


Detalhe de carro alegórico do bloco Unidos do Cantagalo (em desfile da década de 70), onde Aroldo foi intérprete


Capa do segundo LP, "Grito Negro", trabalho de maturidade musical


Capa do terceiro álbum, "Vendaval da Vida"


Celebridades sambísticas reunidas nos anos 70: o ator Jorge Coutinho (de cavanhaque), os compositores Nelson Cavaquinho e Ismael Silva, e Aroldo Santos. No centro da imagem, uma amiga não identificada. Foto tirada provavelmente em 1976 ou 1977

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