Uma
das vozes mais marcantes do carnaval do Rio de Janeiro em todos os
tempos. Abílio Martins - assim como Jamelão e Roberto
Ribeiro -, é sempre uma referência em se tratando de
interpretação de samba enredo. Voz grave (em alguns
momentos quase gutural), bem timbrada e com uma notável
marcação rítmica, Abílio sempre foi
identificado com as chamadas escolas menores, mas nem por isso as
tratava como tal. É ídolo de vários interpretes
consagrados - Neguinho da Beija Flor é fã declarado de
Abílio Martins.
Apesar
de ser um verdadeiro
cigano no carnaval, a origem carnavalesca do cantor natural de
Madureira é o Império Serrano desde sua
fundação em 1947, devido a sua
aproximação com os compositores da Serrinha. Era sobrinho
de Mano Décio da Viola. Na infância, desfilava na Ala dos
Periquitos, assim como sua mãe, dona Irene, integrante da Ala
das Baianas. Depois de uma passagem pela Ala dos Jogados Fora,
tornou-se solista imperiano. É
autor do samba-enredo "Exaltação ao Brasil
holandês", parceria com Chocolate do Salgueiro e Mano
Décio, para o carnaval de 1959. Também foi um dos
intérpretes do Império Serrano naquele ano, iniciando
naquele 1959 sua trajetória como puxador de samba-enredo.
Contratado
pela gravadora
Copacabana, estreou como cantor em gravações comerciais
no ano de 1961 interpretando a batucada "Adeus amor" (Don Carlos e
Sebastião Molequinho) e o samba "Izabel" (Alfredo e Alfredinho).
No ano seguinte, gravou os sambas "Esperança" (Mano
Décio, Paulo Silva Filho e Ari Cruz) e "Passarela da Avenida"
(Avarese e Alfredo Gomes). Em 1963, gravou os sambas "Uma
lágrima" (Benedito Reis e Jair Amorim), "Tudo acabado" (Mano
Décio, Geraldo Barbosa e Lourival Perez), entre outros. Sua
primeira composição gravada foi a marcha "Laranja da
Bahia", parceria com J. Maia. Ainda nos anos 60, participou do
espetáculo "Água na Boca" na Boate Arpege, em parceria
com o Bloco Cacique de Ramos, dirigido por Titto Santos. No ano do
quarto-centenário do Rio em 1965, teve uma passagem pela Portela.
Voltou
a cantar sambas
na avenida
foi em 1968, cantando o clássico "Sublime Pergaminho" da Unidos
de Lucas, samba em que também gravou no disco. Em 1972, sua
interpretação para o samba-enredo "Rio, Carnaval dos
Carnavais" foi incluída no LP "Os Maiores Sambas Enredo de todos
os tempos Vol. II" que teve direção de
produção de Roberto Menescal, disco lançado pela
gravadora Philips/Phonogram. A partir daí, começa a sua
ciranda como cantor de samba enredo por várias escolas.
Em
1974, grava o samba "Dona
Santa, Rainha do Maracatu" (Carlinhos, Malaquias e Wilson Diabo da
Cuíca), para o Império Serrano. No mesmo ano, pôs
voz no samba do então bloco carnavalesco Canários das
Laranjeiras. Em 1976, gravou o samba-enredo "Folia de Reis" (Agnelo
Campos e Efe Alves), da Lins Imperial, incluído no LP das
escolas de samba daquele ano. Em 1977, vai para a Imperatriz
Leopoldinense.
Após
um período se
dedicando a gravações de coletâneas de samba, chega
o ano de 1981, que pode ser considerado como "o" ano de Abílio
Martins em termos de registros fonográficos. No Grupo 1-A, o
cantor gravou "Na terra do Pau-brasil, nem tudo Caminha viu", pelo
Império Serrano. No Grupo 1-B, cantou "Dos balões aos
aviões", do Império do Marangá. E, numa iniciativa
rara e ousada para a época, a gravadora Polydor lança os
discos dos sambas dos Grupos 2-A e 2-B e Abílio Martins
pôs a voz nos sambas de quatro escolas: Grande Rio, Em Cima da
Hora, Engenho da Rainha (2-A) e Unidos de Padre Miguel (2-B).
A
boa fase prosseguiu no ano
seguinte. A Unidos de São Carlos o convidou para puxar o samba
"Onde há rede, há renda" (Djalma e Caruso) no retorno da
escola ao grupo 1-A. No Grupo 1-B, também em 1982, defendeu o
maravilhoso e premiado samba "Lua viajante" para a Unidos de Lucas. No
LP oficial, protagonizou um dueto inesquecível com o sanfoneiro
Luiz Gonzaga, homenageado naquele ano pelo Galo de Ouro da Leopoldina.
A partir daí, Abílio foi se afastando do samba enredo. O
retorno triunfal, e ao mesmo tempo, seu último registro
fonográfico no gênero foi a gravação de
"Tradições de uma raça", do Arranco do Engenho de
Dentro, pelo Grupo 1-B, em 1987.
Abílio
Martins faleceu em
24 de novembro de 1993, no Rio de Janeiro.
|
Escola de origem:
Império Serrano nos anos 40. Foi intérprete de escola de
samba desde
o final da década de 50 até o ano de 1987.
1959
a 1963 - Império Serrano
1964 e 1965 - Portela
1968
- Unidos de Lucas
1969 a 1971 - Vila Isabel
1972 - Império Serrano (com Marlene)
1974 -
Império Serrano e Canários das Laranjeiras (na
época, bloco carnavalesco)
1976 - Lins
Imperial
1977 -
Imperatriz Leopoldinense (apenas gravou no disco, sem desfilar)
1978 e 1979 - Portela (apoio de Silvinho e David Corrêa)
1981
-
Império Serrano (junto com Roberto Ribeiro, no Grupo 1-A)
e Império do Marangá (Grupo 1-B)
1981 - Grande
Rio, Em Cima da Hora e Engenho da Rainha (no disco do
Grupo 2-A) e Unidos de Padre Miguel (disco do Grupo 2-B)
1982 - Unidos de
São Carlos (Grupo 1-A) e Unidos de Lucas (Grupo
1-B)
1987 - Arranco
do Engenho de Dentro
GRITO
DE GUERRA:
Abílio Martins é da época em que o grito
de guerra não era comum entre os puxadores de samba. Mas em
algumas gravações aparecia "Olha (diz o nome da
escola) aí, povão".
CACOS
DE EMPOLGAÇÃO: "alô minhas pastoras", "que beleza"
"vaaai", "diz de novo", "beleza pura"; "arrepia".
SAMBA
DE SUA AUTORIA: "Exaltação ao Brasil holandês"
(Império Serrano/1959, com Chocolate e Mano Décio da
Viola).
ALGUMAS
PARTICIPAÇÕES EM DISCOS
- LP "Samba do
Morro e do Asfalto - Escola de Samba Império
Serrano" (Copacabana, 1961)
- LP "Samba,
Oração do Morro - Com a Escola de Samba
Império Serrano" (Copacabana, 1963)
- LP "Grandes
Sucessos da E. S. Portela" (Copacabana, 1963)
- LP "O Cacique de Ramos com Abílio Martins" (Walplast, 1967)
- LP
"Voltei" (Tropicana, 1968)
- LP "Isto é
Samba Autêntico" (Musidisc, 1969)
- LPs - coletâneas de sambas lançadas pela gravadora
Discos CID, no final da década de 70 até meados da
década de 80.
- LP "Os Sambas-Enredo para 1972" (Polydor/1972)
- LP "Os Maiores Sambas Enredo de todos os tempos Vol. II"
(Philips/Phonogram, 1972)
- Série de LP's "História das Escolas de Samba" (Som
Livre, 1976)
- LP "História do Brasil Através dos Sambas de Enredo - O
Negro no Brasil" (Som Livre, 1976)
- LP "O Ciclo Vargas - Uma visão através da música
popular" (Som Livre, 1979. Abílio Martins cantou na faixa
"Sessenta e um anos de República" (Silas de Oliveira e Mano
Décio da Viola), samba enredo do Império Serrano para o
carnaval de 1951.
MÚSICAS
DE SUA AUTORIA:
- "Chorei por Você" (com Jorge Canseira
e Mano Décio da
Viola), gravado por Abílio (LP "Samba, Oração do
Morro, 1963)
- "Noite Linda" (com
Davi do Pandeiro e Mano Décio da Viola) gravado por Abílio (LP
"Samba, Oração do Morro, 1963)
- "Lágrimas
e Sangue" (com
Osório Lima e Mano Décio da Viola) gravado por Abílio (LP
"Samba, Oração do Morro, 1963)
- "Quando o Dia
Amanhece" (com
Mano Décio da Viola e Dom Carlos) gravado por Abílio (LP "Samba,
Oração do Morro, 1963)
- "É uma
verdade" (com José Paulo e Mano Décio da
Viola), gravado por Mano Décio da Viola (CBS, 1979)
- "Amar como eu
amei" (com Mano Décio da Viola), gravado por
Dona Ivone Lara (LP "Sorriso de criança", da EMI/Odeon, 1979)
- "Exaltação ao Brasil holandês" (com Chocolate do
Salgueiro e Mano Décio), gravado por Mano Décio (LP "O
legendário Mano Décio da Viola", da Polydor, 1976).
|