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Os sambas da Série Ouro 2025 por Marco Maciel

Os sambas da Série Ouro 2025 por Marco Maciel

As avaliações e notas referidas apresentam critérios distintos dos utilizados pelo júri oficial, em nada relacionados aos referidos desempenhos que as obras virão a ter no desfile

A GRAVAÇÃO DO CD - O álbum dos sambas-enredo da Série Ouro de 2025 segue o estilo dos três últimos sob a produção do Mestre Macaco Branco. Desde 2022, o mestre de bateria da Vila Isabel é o encarregado do disco, sendo responsável por um produto final com mais robustez que os recentes CDs do Grupo Especial. Sem se preocupar com a mudança do estilo, a equipe de Macaco Branco segue investindo no peso da bateria, além da força do coral e com os alusivos presentes em todas as faixas.

Embora alguns destes alusivos estejam se repetindo com relação aos discos anteriores, o expediente soa muito mais agradável que os discursos no início de algumas faixas do CD do Grupo Especial 2025, que chegam a lembrar as horripilantes explanações dos enredos do álbum de 2014.

A produção faz a sua parte ao tentar fortalecer uma safra burocrática, com sambas mornos, com poucos momentos de destaque e que soam repetitivos, o que dificulta a memorização das obras. E 16 escolas no Grupo de Acesso é um exagero.

O samba do Império Serrano é o melhor do disco com folga. Outros destaques, pela ordem do CD, são Porto da Pedra, União de Maricá, Inocentes de Belford Roxo (reedição), União da Ilha, Vigário Geral e União do Parque Acari.

Parabenizo à LigaRJ por seguir com a iniciativa da produção do álbum físico, seguindo respeitando o colecionismo de samba-enredo que segue forte pelo Brasil afora. Algo que a Liga SP também faz com louvor.

IMPÉRIO SERRANO - O samba que homenageia o saudoso Beto Sem Braço faz jus à história do lendário compositor. Com refrões malandreados e inspirados que remetem a canções de meio de ano do artista, a vida do sambista aparece muito bem sintetizada na letra imperiana. Clássicos do compositor como "Meu Bom Juiz", imortalizado na voz de Bezerra da Silva, desponta na obra do Reizinho de Madureira. As aspas de sambas-enredo clássicos do Império de autoria do grande Laudeni Casemiro também engrandecem o hino de 2025, gerando o momento mais emocionante do samba, na segunda parte através da citação direta ao samba de 1992, que inclusive aparece pelo segundo ano seguido como alusivo da escola na faixa oficial. Outro destaque absoluto é Kleber Simpatia, que apesar de ter que dividir no disco os vocais com Xande de Pilares e Arlindinho (o que não precisava), brilha nos versos em que participa na faixa. O experiente e carismático intérprete consagrado no Carnaval Capixaba também vem conquistando um espaço merecido na Sapucaí, depois de sua brilhante passagem pela Unidos da Ponte. O melhor samba-enredo do ano no Grupo de Acesso será fundamental para os imperianos no desfile simbólico que farão na Sapucaí. Diria o lema eternizado pela agremiação: "Um filho do verde esperança não foge à luta". NOTA: 10.

ESTÁCIO - Após conquistar o Estandarte de Ouro e o Troféu Sambario com o seu melhor samba dos últimos 30 anos em 2024, a Estácio de Sá apresenta um hino simpático, mas longe do brilho da obra anterior. Para o enredo em que o símbolo da escola, o Leão, desbrava as maravilhas da Amazônia, a vermelho-e-branco aposta num samba forte, com bons refrões, com o do meio incluindo um verso consagrado pelo narrador global Everaldo Marques ("Enquanto houver bambu, tem flecha"). O trecho "Eu sou o dom" na reta final apresenta a melodia de maior destaque, com a faixa tendo uma condução segura de Serginho do Porto (de volta à escola) e Tiganá. NOTA: 9,7.

PORTO DA PEDRA - De volta à Série Ouro, após a rápida passagem pelo Grupo Especial, o Tigre de São Gonçalo vem com um samba mais valente para contar sobre o sonho utópico do empresário Henry Ford de construir uma cidade chamada Fordlândia no meio da Amazônia. Para exaltar a resistência do povo contra o progresso, o experiente Wantuir valoriza a boa obra, com vários efeitos que não deixam a obra cair em nenhum momento, como "Barcaça vai trazer, barcaça vai levar", "Quero ver, quero ver", "Eaeaê eaeaê". Um dos pontos altos da safra. NOTA: 9,9.

UNIÃO DE MARICÁ - A agremiação chegou na Sapucaí botando banca, depois do hit "Maricá é meu país, meu país é Maricá" do ano passado. Para 2025, apresentará o melhor enredo do ano, através da homenagem à mãe de santo Cacilda de Assis, que incorporava Seu Sete da Lira. A entidade se tornaria uma espécie de Exu popstar, sendo disputada à tapa por astros da TV como Chacrinha e Flávio Cavalcanti no começo dos anos 70. Com refrões de efeito, duas partes envolventes e a alusão ao clássico "Vem chegando a Madrugada", o bom samba mantém o nível do bem-sucedido hino de 2024. O excelente Bico Doce chega para agregar à dupla Nino do Milênio e Matheus Gaúcho, com a Maricá passando a ter um trio de respeito no comando do carro de som. A escola é apontada como uma das favoritas para o acesso ao Grupo Especial. E o samba será mais um dos trunfos que a agremiação emergente levará para a Sapucaí. NOTA: 9,9.

SÃO CLEMENTE - O enredo sobre a proteção aos cachorros gerou algumas situações bem-humoradas à escola, como a sugestão do título "Capicães de Asfalto", em referência ao clássico clementiano enredo de 1987. Tanto que no hino para 2025 há uma alusão ao histórico samba através do verso "Um cão sem dono". Porém, ao contrário do inesquecível "Capitães de Asfalto", a obra funcional que embalará o desfile da São Clemente é simplória demais. Rafael Tinguinha não consegue salvar o samba, que pouco chama a atenção, me agradando apenas o refrão central "É preto, é caramelo...". NOTA: 9,5.

INOCENTES DE BELFORD ROXO - O enredo de 2008 sobre Ossain proporcionou o samba mais emblemático e vibrante da história da agremiação, que recorre  novamente à belíssima obra 17 anos depois para embalar seu desfile. Entretanto, por conta de uma releitura diferente proposta pelo carnavalesco, uma mudança no hino foi feita no refrão central. Os versos originais "Vem de Alaketú, jejê e Angola/Na cura, o desejo mais puro/Fé no futuro, vai minha escola" deram lugar à sequência "Vem de Angola, Jejê, Nagô/Xangô tentou, Oyá trouxe o vento/Mas o fundamento o pai guardou". A atitude da Inocentes proporcionou uma excelente coluna de Carlos Fonseca, sobre os sambas reeditados que receberam alterações, como União de Jacarepaguá 2002 também para 2025. Na minha opinião, vejo como um desrespeito aos compositores e até como uma traição para a memória afetiva as dispensáveis modificações de obras de anos atrás. A justificativa é as repetições de temas poderem encontrar contextos distintos com relação à época de suas concepções originais, além do próprio gênero samba-enredo também ser sujeito a alterações tanto nos seus estilos como nos métodos de julgamento. Portanto, já que as reedições de enredos vêm ultimamente promovendo mudanças de trechos das músicas antigas, é mais adequado que se promova o concurso ou encomende um novo samba, assim como a Tuiuti (em 2010) e a Lins Imperial (em 2023) fizeram ao anunciarem reedições de seus enredos de 1990 (Eneida e Madame Satã, respectivamente). Por fim, Thiago Brito e Daniel Silva (estreando pela Inocentes) conduzem muito bem o samba-enredo, (quase) o mesmo que proporcionou à Temtem Sampaio em 2008 sua melhor gravação na carreira. NOTA: 9,9.

UNIÃO DA ILHA - Para homenagear a revolucionária bailarina italiana Maria Baderna, cujo sobrenome viraria verbete no dicionário brasileiro, a Ilha aposta num samba que mistura muito bem dolência e valentia, ainda que muito pesado em vários momentos, mas com uma bela atuação de Temtem Jr. A obra tem bons refrões e uma primeira parte que, na minha visão, é superior à segunda. Talvez falte uma transição mais forte do final para o refrão principal. Mas é um dos hinos mais agradáveis do grupo. NOTA: 9,8.

ACADÊMICOS DE NITERÓI - Apresentando um enredo semelhante ao levado pela Vigário Geral no ano passado, sobre o São João da cidade cearense de Maracanaú, a Niterói conta com o reforço do veteraníssimo Nêgo em seu carro de som. Mas nem o multipremiado cantor consegue valorizar a obra, que tem poucos momentos inspirados de melodia. Além disso, o hino tem alguns momentos que causam um déjà-vu em relação ao samba da própria Niterói do ano passado, sobretudo nos últimos versos. NOTA: 9,6.

VIGÁRIO GERAL - O enredo sobre o cronista Francisco Guimarães, o Vagalume, gerou um dos bons sambas da Série Ouro em 2025. O refrão principal é apenas correto, mas o restante da obra vai crescendo, sobretudo no bom refrão do meio e principalmente num dos momentos de melodia mais diferenciada do ano. O estribilho "O sino da igreja faz belém blem blom" acaba sendo inserido de forma arrojada na metade da segunda parte, servindo como um cartão-de-visitas para o samba e funcionando muito bem. O excelente intérprete Danilo Cezar concede ainda mais força à obra. NOTA: 9,8.

UNIDOS DE BANGU - A Bangu exalta a Aldeia Maracanã, símbolo da resistência indígena no Rio de Janeiro. Apesar de Igor Vianna e Pipa Brasey continuarem formando uma excelente dupla, nem o entrosamento dos intérpretes faz o retilíneo samba crescer. Com poucas variações melódicas, o hino desperta a atenção do ouvinte apenas no fim da segunda parte, através da sequência iniciada pelo verso "Sobreviver é bem mais que sonhar", que inclusive é cantado como alusivo no CD pela rainha de bateria Wenny Isa. NOTA: 9,6.

UNIDOS DA PONTE - No retorno de Leonardo Bessa à Sapucaí, a Ponte não proporcionou um bom samba para o experiente intérprete. Ao trazer uma reflexão sobre a preservação ambiental, acabou gerando mais um samba burocrático da safra, com versos de gosto duvidoso como "É bicho morrendo queimado, ah meu Deus". Também de melodia reta, será mais um a ser esquecido depois da Quarta-Feira de Cinzas (ou quinta, já que mudaram o dia da apuração da Série Ouro). Uma pena, já que a Ponte teve um dos melhores sambas do Acesso no ano passado. NOTA: 9,5.

EM CIMA DA HORA - O enredo em exaltação aos terreiros gerou um samba valente da Em Cima da Hora, embora sem brilho. O ponto alto da faixa é de longe a interpretação de Charles Silva, que sem dúvida consegue encorpar a obra, sendo decisivo para o crescimento do hino da azul-e-branco de Cavalcanti. O cantor é uma das maiores revelações do Carnaval Carioca, sendo também integrante do carro de som do Salgueiro, com boas passagens anteriores por Unidos da Ponte e Estácio de Sá. NOTA: 9,7.

UNIÃO DO PARQUE ACARI - O excelente enredo sobre o violão trouxe uma letra inspirada de Moacyr Luz e Fred Camacho, que proporcionam uma levada nostálgica ao samba-enredo bem interpretado por Tainara Martins e Leozinho Nunes. Na letra poética, o violão conta sua história em primeira pessoa, gerando todo o lirismo. A melodia é simples e, de tão dolente, poderia ser mais ousada, sobretudo na segunda parte. Destaque para o refrão do meio, que acaba também funcionando como o encerramento da primeira, proporcionando um bom efeito. NOTA: 9,8.

ARRANCO - O samba-enredo sobre as mulheres e as mães cantado pelo Arranco tem um refrão principal muito parecido com o que a Mocidade Alegre entoará no Anhembi em 2025. A obra tem vários bons momentos, sendo bem valorizada por outra dupla que vem se entendendo muito bem na Sapucaí: Pâmela Falcão e Thiago Acácio. É um samba simpático, embora a melodia me pareça familiar em outros trechos, não apenas no refrão principal. NOTA: 9,7.

TRADIÇÃO - O pesado hino sobre as orações que embalará a volta do Condor à Sapucaí apresenta uma levada nostálgica em determinados momentos, como um ôôôôô que havia caído em desuso, além de outros bons momentos como a cabeça e o efeito na palavra "reza" no fim da segunda parte. Mas é um samba irregular, que também tem momentos poucos inspirados, como o refrão principal apenas discreto. Tuninho Júnior estreia na agremiação de Campinho em grande estilo, com uma boa atuação. NOTA: 9,7.

BOTAFOGO SAMBA CLUBE - Pela primeira vez na Sapucaí, a agremiação novata homenageia o clube que o originou: o Botafogo. Logo após ganhar a Libertadores e o Brasileirão, finalmente a história do Glorioso será vista na avenida, depois da Estácio falar do Flamengo (1995), a Unidos da Tijuca exaltar o Vasco (1998), a Rocinha levar o Fluminense (2003) e a Unidos da Ponte falar do América (2004). O samba que conta com Emerson Dias no comando é descompromissado e desprovido de técnica. Trata-se de uma marchinha daquelas bem adequadas para uma escola que irá abrir uma noite de Carnaval. Ou seja, a única razão é empolgar e divertir. O cantor Binho Simões também participa da faixa no CD. NOTA: 9,5.