PRINCIPAL    EQUIPE    LIVRO DE VISITAS    LINKS    ARQUIVO DE ATUALIZAÇÕES    ARQUIVO DE COLUNAS    CONTATO

Os sambas de 2016 - Grupo Especial (São Paulo) por Bruno Malta
Os sambas de 2016 - Grupo Especial (São Paulo) por Bruno Malta



Após um convite do editor-chefe Marco Maciel, hoje venho aqui no Sambario expor meus pensamentos e opiniões sobre os sambas do Grupo Especial de São Paulo. Antes de mais nada, quero agradecer o chamado e a confiança do Marco que me cedeu este espaço e também quero agradecer a liberação do meu “chefe” Pedro Migão do blog “Ouro de Tolo” - onde tenho coluna - para a postagem deste artigo por aqui. Em ambos os casos, o crédito que os dois depositaram em mim foram fundamentais e os agradeço bastante por isso. Sem mais delongas, abaixo coloco o que penso sobre a gravação e os 14 sambas do Especial de São Paulo me adequando a linha editorial do Sambario.

 As avaliações do texto abaixo em nada tem relação com os critérios de julgamento utilizados pela Liga-SP e nem relação com o julgamento oficial.

Gravação do CD: Excelente. Há um bom tempo não gostava tanto da produção de um CD em São Paulo. O trabalho do estúdio ficou excelente valorizando algo que acho incrível que são as bossas das baterias – essas muito bem ensaiadas –, outro ponto positivo é sem dúvida alguma os coros que passam a sensação de “Ao Vivo” mesmo em estúdio. O único senão da mesma é a limitação em 5:37 para todos os sambas. Algumas faixas terminam sem duas passadas completas. Uma pena. Nota: 9,9

Vai-Vai: “Mon Amour, a voz do povo é quem dizO enredo da Saracura é uma homenagem a França. Por ser um enredo CEP, a letra do samba apesar de fácil é daquelas que seguem uma listinha de coisas a se citar. A melodia por outro lado compensa a letra, sendo uma pancada do começo ao fim. O senão da obra fica por conta da falta de um “algo a mais” com a cara do Vai-Vai na letra, mesmo assim é um dos grandes sambas da safra. Wander Pires de volta a escola após dois carnavais tem grande desempenho agregando muito a obra. Nota: 9.9

Mocidade Alegre: Sou raiz, tenho história e o povo aclamou  Tentando reconquistar o título, a escola do bairro do Limão vem contar a história ancestral do gênero samba no ano centenário do gênero. O enredo muito histórico facilitou para a composição ter uma letra explicativa e por isso todos os setores são bem divididos fazendo com que a letra seja sem dúvida nenhuma o ponto forte da obra. A melodia, no entanto, tem momentos complicados, a cabeça do samba tem uma espécie de introdução que traz uma quebra melódica muito grave. O ponto de mais destaque da obra são os refrães de meio e o refrão que antecede o principal, ambos bem construídos em letra e melodia. Igor Sorriso é outro a ter grande desempenho na gravação dando um algo mais ao samba. Nota: 9.8

Rosas de Ouro: És meu amor, eterna como o tempo, Roseira!   Pra deixar de bater na trave, a Roseira trocou de carnavalesco e apostou na história da Tatuagem para o próximo Carnaval. André Cezari em sua estréia na escola apostou numa sinopse de fácil entendimento que resultou em sambas que seguem a linha de descrição completa do tema. O samba da escola é dessa forma. A letra conta perfeitamente o enredo da escola e possui lindos momentos como nos refrães e nos últimos versos da segunda parte. No entanto, faço a ressalva que a primeira parte é um tanto abaixo que a segunda e os refrães em termos de beleza. A melodia é num tom menor e mais cadenciado valorizando as passagens mais belas da composição. Darlan Alves tem grande gravação mostrando mais uma vez viver uma grande fase na carreira. Nota: 9.9

Águia de Ouro: E hoje a Pompéia cantando te pede perdão    Apostando mais uma vez na encomenda de seu samba, o Águia de Ouro canta a história da Virgem Maria no Carnaval 2016. A obra até por ser encomendada, foge um pouco da linha padrão. O refrão principal é bem mais longo que o normal e a segunda parte é cantada com uma espécie de contracanto. Por conta desta ousadia, a composição sofre de alguns probleminhas de métrica o que tira um pouco do brilho da obra. A melodia também é bem construída e é muito forte no refrão principal, fazendo que todos se contagiem. Douglinhas Aguiar recém-saído da aposentadoria mostra toda a sua categoria e faz ótima gravação. Nota: 9.9

Dragões da Real: A fama de grego não quero não   Buscando o inédito título do Grupo Especial, a Tricolor cantará a história dos presentes no próximo Carnaval. O samba da escola não é uma obra daquelas marcantes, mas a melodia mais animada compensa em alguns momentos a letra que é um tanto pobre. A letra que é cantada em primeira pessoa não brilha em praticamente nenhuma passagem e tem alguns momentos digamos que menos coloquiais como nos versos: “Fui abandonado, deixado de lado/ meu bem me tira desta confusão”. A idéia de colocar o presente e a escola com os mesmos objetivos também não foi bem executada na letra. A melodia se não brilha, pelo menos é animada e deve fazer o componente cantar. Daniel Côllete já viveu fase melhor e não faz uma gravação sensacional, mas também não deixa a desejar. Nota: 9.6

Acadêmicos do Tucuruvi: A hora é essa, sou Tucuruvi    O samba já diz tudo. A hora é essa pra Tucuruvi ser campeã. Voltando a desfilar no sábado, a agremiação da Cantareira segue em sua busca pelo título inédito e cantará as festas da Fé na nova tentativa. A composição é de uma linha diferente do que a escola vinha tendo nos últimos anos. A melodia é mais animada e a letra é menos rebuscada, buscando mais empatia com o público. Ambas as missões são bem sucedidas, você consegue identificar a história que a azul e branca quer contar facilmente na letra. A melodia te contagia apesar de alguns probleminhas como na cabeça da obra onde há uma mudança melódica bastante incomoda. Apesar da fácil leitura e da melodia correta, não é um samba que me empolgue justamente pela falta de mais emoção para cantar a fé. Alex Soares estreando como cantor na Tucuruvi não faz uma grande gravação e tem desempenho apenas correto. Nota: 9.7

Nenê de Vila Matilde: Paixão tão louca que arrebata   Após um carnaval de resgate, a Águia guerreira da Zona Leste aposta nos 30 anos de Cláudia Raia como tema para o seu próximo desfile. O carnavalesco Roberto Szaniecki de volta ao Carnaval de São Paulo apostou numa abordagem fácil do enredo que lembra bastante a feita pela Mocidade Alegre em 2015 para a homenagem a Marília Pêra. A composição segue a linha da escola do Limão em 2015, bastante descritivo ao enredo e com lembranças de papéis importantes desempenhados pela atriz. A melodia segue a linha do enredo sendo correta, sem nem brilhar ou deixar a desejar. É um samba apenas correto que deve servir ao desfile da azul e branco, mas isso não me faz morrer de amores pela obra. O desempenho de Agnaldo Amaral na faixa é bom, apesar da excessiva cadência em algumas passagens. Nota: 9.7

Império de Casa Verde: E o amanhã, o que será?   O Tigre guerreiro resolveu rugir forte após dois anos fora do desfile das campeãs. De cara contratou Jorge Freitas para ser seu carnavalesco - Jorge que tem de passagens consagradas por Rosas e Gaviões - e em seguida anunciou seu enredo e samba que tem características típicas de sua fase mais gloriosa. A letra da composição para o enredo “Império dos Mistérios” é praticamente primorosa pecando apenas no rima boba entre “Mistério” e “Império”. A melodia é bastante trabalhada e permite que a Barcelona do Samba brilhe com sua batida mais cadenciada. Por tudo isso, o samba do Império é um dos melhores sambas do ano fazendo que Carlos Júnior mais uma vez brilhe em sua condução. Nota: 9.9

Gaviões da Fiel: Vem da arquibancada, a minha raiz  – A Torcida que Samba vêm cantar o que é fantástico no Carnaval 2016. Buscando repetir o efeito arrebatador de sua entrada no Anhembi em 2015, a composição para 2016 segue a linha da obra de 2015. Ele é descritivo ao enredo e conta com um refrão principal simplesmente explosivo. A letra conta bem o que se propõe o enredo e a melodia também não faz feio, sendo bastante correta e facilitando o canto do componente. No geral, é mais uma obra correta na safra que não brilha e nem faz feio. A gravação deu um algo a mais ao samba que ganhou muito com a interpretação de exímia categoria do veterano Ernesto Teixeira que como sempre brilha não só cantando como em seus “salves”. Nota: 9.7

Unidos de Vila Maria: Deságua na cadência do meu samba – A Vila mais famosa cantará Ilha Bela no Carnaval de 2016. Buscando se recuperar após uma série de desfiles mais modestos, a Vila Maria conta com um bonito samba na busca do ressurgimento. A composição da escola assinada entre outros por Dudu Nobre e Diego Nicolau é muito bem construída em termos de letra e melodia. A letra segue a linha de enredos CEP, mas ao contrário do Vai-Vai (que veremos amanhã) tem uma ou outra licença poética mais ousada, fazendo que aconteçam belas relações entre a escola e a cidade. A melodia é bastante correta e tem momentos de brilho como na passagem: “E o índio bateu tambor... ôôô” e no refrão de meio. É outra bela obra na safra que contém bons momentos. No entanto, sinto falta de mais inspiração da melodia na primeira parte. Dudu Nobre faz um lindo alusivo e Clóvis Pê conduz o samba corretamente. Nota: 9.8

X-9 Paulistana: Oh! Virgem santa abençoai meu pavilhão – A agremiação da Parada Inglesa segue na sua busca pela volta aos grandes dias. Se no ano passado, o desfile não aconteceu, a expectativa é de uma melhor posição este ano. Para isso, a escola cantará o Açaí e o estado do Pará. A composição da escola para o próximo carnaval remete ao costume para os sambas de enredo CEP, é bastante descritivo, mas cansa um pouco por conta da melodia que é apenas correta. A letra é apenas razoável e se propõe somente a contar com correção a história que a escola escolheu. A melodia é um pouco abaixo em relação  a letra e tem poucos momentos de brilho ou de algo mais contagiante. O refrão de meio mexido após a disputa se tornou o ponto de mais dificuldade para canto da escola com muitas expressões complexas. Royce do Cavaco tem mais uma atuação de extrema categoria dando um brilho à obra da escola. Nota: 9.7

Acadêmicos do Tatuapé: Valeu João, foi o sonho de um beija flor – Após o quase rebaixamento em 2015, a escola da Zona Leste de São Paulo resolveu homenagear a Beija-Flor de Nilópolis no próximo Carnaval no ano em que o primeiro título da escola no Grupo Especial Carioca completa 40 anos. Fruto de uma junção, o samba da escola é como diz Neguinho: “Uma pedrada”. Valente toda vida, a composição tem uma letra guerreira que conta muito bem o enredo apesar de alguns “esquecimentos” históricos de desfiles da Deusa da Passarela. A melodia é muito bem construída apesar da junção, tendo seu ponto alto no refrão de meio. O único senão da obra é justamente o outro refrão, o principal. Com todo respeito do mundo, a Tatuapé não precisa dizer que se inspira na Beija-Flor para exaltar a escola nilopolitana. A gravação do samba conta com Leci Brandão, Neguinho da Beija-Flor e o ótimo Celsinho Mody, os três nos momentos que participam cantam com a categoria de sempre fazendo belo momento no CD. Nota: 9.9

Unidos do Peruche: Fazer do enredo uma canção – De volta ao Grupo Especial, a Filial do Samba presta uma linda homenagem aos 100 anos do samba. Com um samba de respeito, a Filial se mostra disposta a renascer. Falar da beleza da composição é chover no molhado, a história do gênero é contada de forma perfeita na letra. O refrão de meio é o momento de mais brilho do ótimo samba fazendo uma síntese perfeita do enredo com uma linda passagem que diz: “O som que aflora é a cara do povo”. E não que é mesmo? A segunda parte beira a perfeição com várias passagens de destaque. A melodia é forte e te remete aos grandes sambas da história da Peruche e do Carnaval de São Paulo. Enfim, obra brilhante. Toninho Penteado e Quinho fazem uma gravação simplesmente espetacular e mesmo com estilos diferentes, ambos casaram de forma sensacional, agregando a já excelente composição. Nota: 10,0

Pérola Negra: A jóia rara te convida pra dançar – Convidando-te pra dançar, a Vila Madalena, ou melhor, a Pérola Negra está de volta ao Grupo Especial. A Jóia Rara do Samba traz uma obra diferente do que estávamos acostumados a ver naqueles lados. O samba é bastante animado e a letra é fácil, daquelas que você aprende com poucas audições. Isso talvez seja explicado pelo fato da escola ser taxada como fria por parte do público e na busca por uma melhor comunicação, a agremiação aposta num samba mais “fácil”. Por ser mais fácil de decorar, a melodia também não é tão bem trabalhada, assim como as rimas, sendo mais populares e de menor beleza. No geral, a composição da escola deve servir bem ao desfile, mas não é uma obra que me agrade muito. Juninho Branco, estreante na escola faz ótima gravação. Nota: 9.7