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Os sambas de 2013 - Grupo Especial (São Paulo)
Os sambas de 2013 - Grupo Especial (São Paulo) por Ronaldo Figueira


As avaliações referidas apresentam critérios distintos dos utilizados pelo júri oficial, em nada relacionados aos desempenhos que as obras virão a ter no desfile

A Gravação - Seguindo o mesmo padrão dos anos anteriores, a produção do CD 2013 não muda muito. As mudanças dizem respeito a elevação da percepção dos arranjos da bateria e dos coros das agremiações na segunda passagem do samba. A “sensação de ao vivo” ainda é o carro chefe do projeto. A principal reclamação fica por conta da distribuição, que está deixando mais a desejar que em 2012. Nota da gravação: 9,2 

Mocidade - E se o vilão é o herói afinal? Depois do ótimo samba de 2012 a Mocidade decidiu voltar aos enredos abstratos que vinha apresentando até 2011. O enredo de 2013 é confuso e o samba escolhido não ajuda muito a nos esclarecer. O samba é mediano e segue a mesma receita dos outros sambas escolhidos para falar de enredos abstratos. O clímax da faixa fica por conta da homenagem ao grande compositor e fundador a escola Seu Beto que nos deixou em 2012. Nota: 8,9.

Rosas – Superando a tristeza no refúgio da minha saudade. A roseira continua com a temática de enredos de homenagem, dessa vez optando pelas festas da humanidade. O samba é alegre e agradável e marca bem o retorno da parceria de Armênio Poesia. Nas eliminatórias só me agradava menos que o samba de Sukata e Cia. Foi uma boa escolha. No universo catastrófico da safra de 2013 é uma das salvações. Nota: 9,0

Vai-Vai - Matriz, escola do povo/ Respeite o meu pavilhão! A opção por um carnavalesco carioca e a escolha do enredo sobre o vinho em princípio não me agradaram em nada. Porém, observou-se uma eliminatória muito interessante na escola com o antológico samba de Kaxitu e Juninho Berin, não fosse a quase certeza sobre o vencedor. O samba de Zeca do Cavaco e Cia (sério?) cresceu imensamente com a interpretação de Wander Pires e é um dos melhores do CD (confesso que é o meu repeat). Nota: 9,3.

Mancha-VerdeÉ Mario Lago homem genial! Dessa vez a Mancha Verde decidiu ser mais estranha na sua escolha de samba. Se ano passado com o sambaço de Thiagão a escola optou pelo samba do Freddy (intérprete da escola), dessa vez jogaram fora seu excelente samba e novamente o samba do Thiagão. Ambos sequer chegaram à final. O samba escolhido é repleto de clichês na letra e arranjos melódicos conhecidos e que agradam os jurados paulistanos. Só para exemplificar observem o refrão do meio: “Vou vivendo enquanto houver saudade/ Carmem Miranda é só felicidade”. A melodia nem precisa ser descrita porque todos conhecem. O grande dramaturgo Mário Lago merecia samba infinitamente melhor e esses sambas existiram... Nota: 7,0

Vila Maria - Quando o meu pavilhão girar, o povo vai cantar feliz... O estranhamento com essa faixa se inicia já pelo seu posicionamento no CD frente ao desfile apresentado pela escola em 2012. Ouvimos então uma narrativa confusa sobre a história da Coreia (do Sul, em nenhum momento eles deixam claro qual das Coreias se trata) e a imigração coreana para o Brasil. A letra por todo o samba, usa palavras de exaltação à cultura coreana de um modo vazio, prolixo e genérico. Vazio porque não tem a narrativa do enredo bem explicitada, resumindo-se em a) coreanos vêm ao Brasil; b) tem tecnologia que exportam pro mundo e uma segunda parte que só cita aspectos que todo país tem (culinária, arte, esporte), sem ao menos explicar o que a Coreia tem nessas suas representações culturais que diferem de outras. Prolixo porque todos os demais versos do samba basicamente repetem adjetivos positivos a respeito do povo/cultura coreano. Nota: 7,1

Tucuruvi - Atrás de um sonho eu vou, o final feliz encontrar. “Voltando pra onde não foi”, a Tucuruvi interrompeu um enredo (provavelmente já parcialmente desenvolvido) sobre Rondônia, interrompendo a fase turística da temática da escola. O enredo não me trazia pessoalmente esperanças de um grande samba antes das eliminatórias porque, por mais que Mazzaropi tenha sido um personagem importante na cultura cinematográfica brasileira, imprimir uma “biografia” sua em alas e carros poderia ser prejudicado pela desconexão das partes da história, já que seriam representados personagens de filmes diferentes e com histórias diferentes cada um. O samba resolve isso muito bem, apresentando uma letra não tão descritiva de sinopse, não apenas listando nomes que não fariam sentido algum a quem não assistiu a todos os filmes do enredo, mas fugindo pra um lado mais poético e, também mérito do enredo, encontrando uma coerência entre os personagens pela característica caipira comum entre eles. Assim, o samba se apresenta bem em dois níveis. A quem não conhece a obra de Mazzaropi, pois ele faz sentido e é bonito, de qualquer forma; e a quem já assistiu a seus filmes, pois ele faz referência direta aos principais. A melodia também é alegre e bem construída, possuindo variações diversas entre os diversos momentos do enredo descritos pelo samba, como no divertidíssimo refrão do meio ou no final da segunda, em homenagem a Dona Edna. Nota: 9,8

Dragões - Liberte a sua emoção. O que acima eu enfatizei que a Tucuruvi não fez em seu samba, é o oposto do resultado obtido pela Dragões. O enredo também é fragmentado e multifacetado, falando do dragão, que é um ser mitológico que “existiu” ao mesmo tempo em diversas culturas do planeta, por isso a necessidade de se falar de várias civilizações e simbologias ligadas a este . Só que aqui os compositores optaram por uma letra mais tradicional, narrando mais linearmente os pontos da sinopse. O resultado é razoável, passa a mensagem com clareza, pontua as principais ideias do enredo e cumpre com os objetivos listados no manual do julgador, mas é chato e burocrático. No mais, segue o estilo de sambas que a escola vem escolhendo desde seus desfiles no grupo de acesso. Nota: 7,8.

Tom Maior - Só mesmo “Vênus” pra nos proteger. Com um enredo criativo que busca uma abordagem diferente para o tema, o samba (e o enredo) conseguem fugir completamente da cara panfletária de alguns trechos do samba da Grande Rio de 2004, sua comparação mais óbvia. O samba é bom, e descreve de forma poética e divertida algumas passagens do enredo, sendo o refrão do meio um de seus clímax. O verso destacado é o “Esquimó” de 2013. O ponto baixo, talvez o único, seja uma cara comercial meio exagerada ao fim, no “Num mundo de cores / Textura e sabores”, que foge um pouco da abordagem mais generalizada sobre “sexo saudável” que esteve no restante da letra e especifica demais algo que é, claramente, uma característica do produto da patrocinadora, não algo realmente relevante à narrativa. Por fim, em seguida a isso, vem a redenção, a parte alta em letra e melodia, fechando o samba com um verso sintético à toda a ideia do enredo, “curta a vida com paixão”. Nota: 9,1

Gaviões da Fiel - Sou a estrela, “Fiel Gavião”. Se a Tom Maior prega uma vida a ser curtida com muita paixão, a Gaviões acha que ser fiel é a alma do negócio. O enredo bem estruturado trouxe um samba bom, entre os melhores da escola desde que retornou ao especial, em 2008. Nas eliminatórias, observamos duas parcerias consagradas disputando acirradamente, Grego versus Rifai e Ernesto. Porém, os sambas eram parecidos e destoam bastante dos já criados por eles. No samba escolhido, de Rifai, a letra é bem descritiva e linear, sem prejudicar a clareza de ideias, já que a história contada também é mais cronológica, com exceção do primeiro trecho que exalta a torcida. A melodia é bem animada, com excessivos momentos de explosão. Nota: 8,5

X-9 - Hoje a X-9 é uma corrente de fé, que traz amor e união. O enredo da X-9 é uma exaltação à cidade de São Paulo como se aqui não existissem preconceitos ou desigualdades muitas. Algo muito comum nos tempos mais duros da Ditadura Militar, lá pelos anos 1970. Confesso que não me agrada. O samba, por outro lado, deixando de lado a necessária defesa dessa tese do enredo, é interessante por apenas uma pessoa assiná-lo e por fugir melodicamente dos padrões atuais de composição de samba-enredo. A letra é simples e poética, o que torna o samba agradável de se ouvir. Nota: 9,0

Império de Casa Verde - Uma terapia pra curar a dor/ O nosso remédio é sambar. Até hoje não compreendo com clareza a escolha desse enredo. Temáticas parecidas foram tratadas recentemente em São Paulo e no Rio de Janeiro (Imperador 2010 e Imperatriz 2011). Ao próprio desenvolvimento do enredo faltou clareza nas oportunidades anteriores e falta nessa. Por toda a letra, as formas de cura citadas são mágicas/divinas (ritual de magia, cura divina, filosofia oriental, Obaluaiê, amor, samba), mas, em dois momentos, evoca-se a medicina/ciência. Uma vez na primeira parte, dizendo que a medicina surgiu no Egito (se for a cura mística surgiu bem antes, se for algo com um tratamento mais científico, começou com Hipócrates, na Grécia) e no quase fim da segunda, com um contraditório “E assim mostrou, que a ciência é o caminho a seguir”, depois de um samba inteiro apregoando o contrário. Nota: 8,2.

Águia de Ouro - E o meu medo maior é o espelho se quebrar/ E o meu medo maior... A opção por homenagear o sambista carioca João Nogueira, autor de antológicos sambas-enredo na Tradição não poderia ser mais acertada. O foco em sua vida musical resultou em um samba-enredo ótimo, de autoria do seu filho Diogo Nogueira e cia. A letra possui sacadas ótimas como na primeira em “Eh vida...”. O refrão do meio é primoroso. Na segunda, a imortalização de João mencionando suas composições é belíssima, culminando no trecho selecionado. Só temo pelo andamento que a escola vem dando a esse samba, que prejudica demais sua qualidade e interpretação. Na gravação da vinheta, por exemplo, Diogo Nogueira sequer conseguia acompanhar os intérpretes. Pelo histórico de desfiles da Águia é previsível que o andamento será acelerado e o samba perderá muito. Nota: 9,8

Nenê de Vila Matilde - Cabanagem no Pará, na Nenê samba no pé. Depois de voltar ao grupo especial com um clássico da sambografia universal, a Nenê busca se manter no grupo especial com o samba da mesma parceria campeã desde 2009, exceção somente de 2012. A fórmula, a nível de julgamento, dá certo: os resultados foram ruins, mas samba era sempre 10. O problema, pelo menos pra um matildense acostumado a desfilar com obras bem melhores, é que esses sambas não têm a cara, o estilo da escola, nem soam autênticos em seus versos de tentativas de poetização forçada. Essa minha opinião fica evidente quando ouvimos os trechos do samba cantados por Luizinho Andanças, com seu estilo marcadamente apelativo. Essa parceria carioca tem por costume compor sambas com o mesmo estilo que vem compondo na Nenê em escolas estreantes no grupo especial carioca, porém não é a mesma postura desses compositores quando se trata dos sambas compostos para a Beija-Flor. Fica meu registro para o excelente samba de Santaninha e Cia. Hoje, infelizmente, Canudos se acovardou. Nota: 7,5

Tatuapé - Ao som dos acordes do seu violão, que não se calou diante da opressão. Reestreando no grupo especial, dessa vez com uma subida aparentemente bem mais promissora do que com o rei abacaxi, a Tatuapé trás um dos melhores sambas do grupo, seguindo a mesma linha de biografia de sambista, que a fez ser vice-campeã do acesso apesar da plástica simples.O sistema de eliminatórias empregado na escola (copiado da Mangueira) mostrou-se eficiente. apesar do pequeno número de obras inscritas, todas possuíam qualidade e poderiam representar a escola. Ganhou a da parceria do intérprete da escola e do já diversas vezes campeão na escola André Ricardo, com mais partes animadas e em tom maior, que talvez sejam mais adequadas a quem vai abrir os desfiles. A letra é poética, citando vários versos de sambas da homenageada sem se prender a esse recurso, e apresenta as ideias da sinopse com clareza e coesão. A união de ótima letra e ótima melodia gerou, claro, um ótimo samba, com qualidade bastante homogênea, sem trechos que se destaquem positiva ou negativamente. Nota: 9,5