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Os sambas de 2013 por Marco Maciel

Os sambas de 2013 por Marco Maciel


As avaliações referidas apresentam critérios distintos dos utilizados pelo júri oficial, em nada relacionados aos referidos desempenhos que as obras virão a ter no desfile

A GRAVAÇÃO DO CD – O diferencial do disco que apresenta os sambas-enredo do Carnaval 2013 é o investimento das escolas em duplas, trios ou até em quartetos de intérpretes oficiais. Cinco das 12 agremiações apostam na divisão do microfone oficial entre dois ou mais nomes. Se na década de 90, Gera e Jorge Tropical formaram uma elogiada dupla de cantores na Vila Isabel, nos últimos anos foi Ivo Meirelles quem deu início ao expediente na Mangueira em 2010, quando juntou Rixxa e Zé Paulo a Luizito. No ano seguinte, o Salgueiro não deixou Quinho sozinho e trouxe Serginho do Porto e Leonardo Bessa para ajudá-lo. 2013 marca o boom dos duetos de intérpretes (o Grupo de Acesso também reforçará a tendência), já que Grande Rio, Imperatriz e Inocentes também resolveram solidificar seus carros de som. Martinho da Vila e Arlindo Cruz não contam, pois a dupla faz apenas uma participação especial na faixa da Vila Isabel.

O estilo de gravação do álbum é semelhante aos três últimos, sendo o de 2013 mais animado e com coral mais forte em relação ao CD do ano passado. Os teclados, que eram corriqueiros nos discos dos anos 90, reaparecem com destaque, em especial nas faixas da Unidos da Tijuca e, principalmente, na da Beija-Flor. Os alusivos também são desenterrados, com muitas escolas realizando releituras de músicas incidentais ou reforçando os principais trechos dos sambas que serão cantados. Sobre a safra, é notório que Vila Isabel e Portela estão muito a frente das demais, que se situam num patamar de bom pra mediano. Apesar dos enredos do Especial-2013 num geral serem bastante criticados, felizmente não há nenhuma obra desprezível no disco. NOTA DA GRAVAÇÃO: 9 (Marco Maciel).

1 – UNIDOS DA TIJUCA – “Metade do meu coração é Tijuca, a outra metade Tijuca também”. A marca do samba que abre o CD é este refrão fortíssimo, um dos melhores do ano, com um jogo de palavras cativante, mas não original, já que Osvaldo Montenegro já o utilizara numa canção intitulada... “Metade”. Em virtude da complexidade do enredo sobre a Alemanha, as partes que mais centralizam as atenções no samba-enredo são as que exaltam a escola, como a já referida no refrão principal, além dos três últimos versos da primeira parte, esta mais dolente, enquanto o refrão central e a segunda ganham mais peso. O hino tijucano (né, querido?) recebe excelente interpretação de Bruno Ribas, além de uma linda cadência no CD, semelhante à impressa no álbum de 2011, quando a faixa da escola também foi a primeira do disco. NOTA DO SAMBA: 9,4 (Marco Maciel).

2 – SALGUEIRO – “Tenho fama de fazer história por ser diferente”. O enredo de gosto duvidoso sobre a fama gerou um samba melhor do que o esperado, ainda que a obra esteja longe de ser brilhante. A melodia segue à risca a cartilha salgueirense atual de sambas pra cima, com tendência de funcionamento perfeito na Sapucaí. Os dois refrões, sobretudo o central, são as melhores partes. A citação a John Lennon é a parte mais criativa da letra, que possui bons e maus momentos. A atuação de Xande de Pilares na faixa junto ao trio de intérpretes é curiosa. Compositor derrotado na semifinal de samba do Salgueiro, cantou alguns trechos e soltou cacos que remetem a pagodes de seu grupo Revelação. NOTA DO SAMBA: 8,9 (Marco Maciel).

3 – VILA ISABEL – “Cai a tarde, acendo a luz do lampião”. Um primor! A trinca de feras formada por Martinho da Vila, André Diniz e Arlindo Cruz gerou uma das mais lindas letras do gênero nos últimos tempos. De uma sutileza singular, a poesia do samba esclarece o enredo perfeitamente, de modo a situar o bamba como se ele próprio fosse um personagem do campo, que semeia a plantação, puxa o banco pra “proseá” com o “cumpádi”, até a cantoria prevalecer e ganhar a noite. A melodia não deve nada à letra. Igualmente espetacular, com os dois refrões fortíssimos e as duas partes de variações melódicas inigualáveis, em especial no lindíssimo trecho “Cai a tarde, acendo a luz do lampião/a lua se ajeita, enfeita a procissão”, de felicidade ímpar. Na minha opinião, a gravação de Tinga ficou inferior a de Wander Pires na versão dos compositores. Por mais que Martinho tenha todo o crédito do mundo, pelas grandes obras-primas que proporcionou ao Carnaval, sua participação na faixa é, no mínimo, estranha. NOTA DO SAMBA: 10 (Marco Maciel).

4 – BEIJA-FLOR – “Sou um puro sangue azul e branco”. A divertida introdução, com os relinches do cavalo mais a bateria imitando seu galopar, impulsiona a descontração da faixa. A agremiação de Nilópolis desponta com outro enredo questionável, mas o resultado final do samba é positivo. É a melhor produção do CD, sendo a obra que mais cresceu com o banho de estúdio e a categoria de sempre de Neguinho da Beija-Flor. O samba-enredo honra as características dos últimos apresentados pela escola, sendo bem aguerrido e valente. A letra, em que o cavalo mangalarga marchador conta a sua história em primeira pessoa, num geral é adequada e de bom gosto. O teclado que aparece na segunda parte do samba lembra os álbuns de sambas-enredo dos anos 90, quando o instrumento era bastante utilizado. NOTA DO SAMBA: 9,3 (Marco Maciel).

5 – GRANDE RIO – “Vem cá, me dá, o que é meu, é meu”. A maior surpresa da safra, de forma positiva. Um enredo de protesto contra a redistribuição dos royalties do petróleo teoricamente significaria poucas chances de gerar um samba interessante. Felizmente, a Grande Rio conseguiu eleger uma obra agradável, de melodia grudenta e vibrante, embora a letra naturalmente deixe a desejar em muitos momentos, com clarões nítidos no refrão central, cujos versos quase que integralmente são de exaltação à escola. O refrão principal lembra o samba de 1988 do Império Serrano (“Dá cá o meu, dá cá o meu”). Émerson Dias, juntamente com Nêgo – de volta a Duque de Caxias depois de 13 anos -, tem boa atuação na faixa, também de excelente produção. NOTA DO SAMBA: 9,1 (Marco Maciel).

6 – PORTELA – “Abre a roda, chegou Madureira”. A Águia segue a linha de vanguarda no samba-enredo, de formato moderno e mais gingado, procurando estabelecer uma identidade própria no gênero. Do mesmo estilo e sem dever absolutamente nada ao samba de 2012, a homenagem ao bairro de Madureira proporcionou mais uma vez refrões poderosos e partes de primorosa melodia, principalmente a partir do trecho “Foi nesse chão que a estrela brilhou no tablado...”, dando início a uma sequência irresistível. Ocorreram algumas alterações em relação à versão dos compositores a meu ver desnecessárias, mas que felizmente não comprometeram o samba, principalmente com Gilsinho se encontrando em grande momento. Disputará o Estandarte com a Vila no quesito. NOTA DO SAMBA: 9,9 (Marco Maciel).

7 – MANGUEIRA – “Eu sou Mangueira a todo vapor”. Enredo sobre cidades ou estados não são tão atraentes. Tanto que a “poesia dedicada a Cuiabá” proporciona um samba inferior aos últimos da verde-e-rosa, embora sua melodia reúna toda a identidade da Estação Primeira, com a obra remetendo a muitas outras anteriores da escola. Valente e pra cima, o samba-enredo tem a cara da Mangueira, mas possui características mais funcionais em relação aos carnavais passados da agremiação. Oriundo do Carnaval paulistano, Agnaldo Amaral tem uma bela participação na faixa, ao lado de Luizito, Ciganerey e Zé Paulo Sierra. NOTA DO SAMBA: 9,1 (Marco Maciel).

8 – UNIÃO DA ILHA – “Onde anda você, poetinha?”. O centenário de Vinícius de Moraes é certamente um dos melhores temas que passarão pela Sapucaí no Grupo Especial. Mas é nítido que se esperava um samba melhor. O Império Serrano também homenageou o poetinha há dois anos e apresentou uma obra bastante superior. O samba-enredo insulano, apesar de ter melhorado na voz de Ito Melodia e ganhar uma cadência agradável no CD, carece de um momento de explosão, de um diferencial, pois não há inovações na melodia que, na minha concepção, tende ao arrastamento. NOTA DO SAMBA: 8,7 (Marco Maciel).

9 – MOCIDADE – “No Rock in Rio eu vou de Mocidade”. Mais um enredo desafiante para os compositores. A proposta da homenagem ao Rock in Rio é interessante, mas a limitação poética da obra já era esperada. Rimas forçadas como a de “Lisboa” com “boa” prejudicam o resultado final do samba, que é leve e funcional, de melodia agradável que impulsiona muitas bossas da bateria, em especial no refrão central na hora da alusão ao nome da própria. Luizinho Andanças conduz o samba corretamente. Uma última observação: a inserção da palavra “overdose” na letra é no mínimo sugestiva. NOTA DO SAMBA: 8,8 (Marco Maciel).

10 – IMPERATRIZ – “Exemplo pro mundo, Pará”. A faixa gresilense apresenta um momento significativo na história fonográfica do Carnaval. A reunião de duas gerações de intérpretes, através de seus representantes mais significativos. Dominguinhos do Estácio e Wander Pires, dois dos maiores ícones do samba-enredo, fazem um dueto então inimaginável entre dois profissionais de estilos distintos, mas de resultado absolutamente positivo no CD. A dupla faz o samba sobre o Pará crescer de forma gigantesca. Se o refrão principal é fraco, a obra vai crescendo ao longo dos versos, passando pelo bom refrão central, até atingir o clímax no lindíssimo trecho a partir de “Oh Mãe Senhora, sou teu romeiro”, que fecha a composição em grande estilo. Curiosidade: Dominguinhos também abre a faixa com a frase “O Pará é a obra-prima da Amazônia”, mesmo expediente de quando defendeu a reedição do Círio de Nazaré pela Viradouro em 2004. Detalhe que a frase é o slogan do atual governador paraense Simão Jatene (PSDB), que há oito anos atrás também exercia o cargo. NOTA DO SAMBA: 9,3 (Marco Maciel).

11 – SÃO CLEMENTE – “Olha quem chegou, Sinhozinho Malta”. 25 anos depois de descer a lenha na Rede Globo malhando seu slogan da época no refrão “Se essa onda pega, vai pegar noutro lugar”, eis que a São Clemente resolve “fazer as pazes” com a Vênus Platinada ao homenagear as novelas da emissora. Fruto de uma junção de duas composições, o samba é divertido e animado, sendo fiel à característica da escola e casando muito bem com o estilo de Igor Sorriso. Como esperado, sua letra depende muito das aspas e das citações a diversos folhetins e personagens históricos de nossa teledramaturgia. Os refrões são as melhores partes, apesar de particularmente não ter apreciado a alteração melódica do verso que cita Sinhozinho Malta, ocorrida devido ao original se assemelhar ao refrão principal do samba do Salgueiro de 2012. NOTA DO SAMBA: 8,8 (Marco Maciel).

12 – INOCENTES DE BELFORD ROXO – “Meu Oriente é você”. Fechando o CD, a estreante no Grupo Especial apresenta um samba correto e funcional para falar da Coréia do Sul. Thiago Brito e Wantuir compõem um bom dueto na defesa da simpática obra, que apenas cumpre bem seu papel em representar o primeiro desfile da Inocentes na elite do Carnaval. Como não poderia deixar de ser, na letra há o já batido recurso do “sonho especial”, comum em escolas emergentes no grupo ou em outras que almejam o acesso. NOTA DO SAMBA: 9 (Marco Maciel).