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Os sambas de 1975

Os sambas de 1975

A GRAVAÇÃO DO DISCO - Pandeiro e tamborim compõem a espinha dorsal da bateria no álbum de 1975, fazendo uma bela harmonia com o cavaco. O apito também aparece em várias faixas. 1975 possui uma safra enriquecida pelas obras-primas da Portela, da União da Ilha e da São Carlos, mais os belos sambas da Mocidade, da Mangueira e do Salgueiro. Como sempre, a gravação deixou o samba-enredo como primeiro plano. O som da bateria neste disco é muito diferente daquele que é o som característico hoje, pois, no álbum de 1975, a bateria se resume numa deliciosa e simples batucada. NOTA DA GRAVAÇÃO: 7 (Mestre Maciel).

As safras dos anos 70 são extremamente interessantes. Aliás, cada década teve uma personalidade - nos anos 70, você tinha, nos LP, sambas antológicos ao lado de sambas tenebrosos; nos anos 80, era difícil encontrar sambas realmente ruins, mas também era difícil encontrar obras excepcionais; nos anos 90, você tinha um ou dois sambas bons e o resto era lixo; e no novo milênio, geralmente o melhor samba de cada safra é apenas razoável, mas é difícil encontrar sambas demasiadamente ruins, apesar de um boi com abóbora aqui e ali. A safra de 75 é típica dos anos 70. Você encontra obras imortais, como o lindíssimo "Macunaíma" de David Correa e Norival Reis, o emocionante "Festa do Círio de Nazaré" da Unidos de São Carlos... e tem o samba da Imperatriz, uma das gravações mais bizarras registradas num LP de samba de enredo, além do pouquíssimo inspirado samba pró-ditadura "do" Beija-Flor (na época, a escola era referida no masculino). A bateria no disco é uma batucada pesadona, que fica ao fundo, deixando sobressair a voz do intérprete. Tal produção serviu muito bem para alguns sambas (geralmente, os melhores), mas derrubou e mostrou a tendência de arrastamento dos sambas ruins. Interessante notar que a TAPECAR lançou uma versão alternativa do LP, onde podemos escutar os sambas de 1975 na voz de Elza Soares, Tôco, Marcos Moran e etc, sendo que cada um dos intérpretes canta o samba de duas escolas. A produção do disco da TAPECAR é precária, tendo todas as faixas a mesma base de bateria, com o mesmo andamento. A única gravação que supera em qualidade a do disco oficial é a de Marcos Moran para o samba do Império Serrano, muito animada e empolgante. Os comentários a seguir, entretanto, foram feitos com base no LP oficial. NOTA DA GRAVAÇÃO: 8 (João Marcos).

A gravação do LP de 1975 é muito boa. Dá para ouvir muito bem os instrumentos de corda, predominantes em todas as faixas do vinil. A bateria aparece muito bem apesar bem, apesar de não ser a oitava maravilha do mundo. É um batuque muito cadenciado. O vinil apresenta alguns ruídos chatos, que atrapalham um pouquinho o andamento do samba, mas comparado com os discos anteriores, é o som mais limpo da história. As cuícas e os pratos também aparecem bem, principalmente na faixa do Império Serrano. A safra desse ano é meio inusitada. Obras-primas "nota 10" oscilam com horríveis bois-com-abóbora. Temos os riquíssimos "Macunaíma", "O mundo fantástico do Uirapuru", "Festa do Círio de Nazaré", "Zaquia Jorge, vedete do subúrbio, estrela de Madureira" e "Os segredos das minas do rei Salomão". Também tem os belos sambas da Mangueira e da União da Ilha. Além destes, temos os belos sambas da Vila Isabel e Em Cima da Hora, que não comprometem, mas não são excelentes. Vale a pena constar que o Mestre Jamelão gravou um LP (muito raro hoje em dia) com muitos destes sambas-enredo, que eu disponibilizei por completo aqui no Sambario, na seção Downloads. O vinil se chamava "Os melhores sambas-enredo 75" e realmente é um presente para os bambas. Nele, só faltaram os sambas da União da Ilha (só este faz falta na verdade), Unidos de Lucas e Imperatriz. A gravação é parecida com esta aqui, porém é bem mais cadenciada e audível. NOTA DA GRAVAÇÃO: 7,5 (Gabriel Carin).

1A - PORTELA - Nem parece que o clássico do samba "Macunaíma" é assinado por David Corrêa (junto com Norival Reis), o homem que misturou lirismo e animação em um samba-enredo com singular maestria. Sem as expressões monossilábicas sempre presentes em seus refrões, David construiu um samba de melodia simples, mas de qualidade impressionante. O refrão principal, em forma de cantiga, é daqueles que, quando dá vontade de cantar, não paramos mais ("Vou-me embora, vou-me embora/Eu aqui volto mais não/Vou morar no infinito/E virar constelação"). Embora literalmente tenha um formato atual (duas partes e dois refrões de quatro versos cada), o estilo melódico é bem antigo, já que é cantado geralmente em tom baixo. Na avenida, o samba foi cantado por David Corrêa, Candeia e Clara Nunes, sem dúvida um trio de respeito. No disco, quem canta o hino portelense de 1975 é Genaro Soalheiro, produtor do álbum de sambas-enredo por muitos anos ao lado de nomes como Laíla, Rivaldo Santos e Mário Jorge Bruno. Ele também compôs, junto com o saudosíssimo Bezerra da Silva, a chamada dupla cinco-mais-cinco, cantando com o recém-falecido sambista sucessos como "Piranha", "Colina Maldita", "Arruda de Guiné" e "Se Não Avisar o Bicho Pega". Genaro também produzia os discos de Bezerra e sempre participava dos mesmos, soltando cacos e cantando junto com o rei da malandragem. Genaro aparece na capa do CD "Meu Samba é Duro na Queda", gravado por Bezerra em 1996, disputando uma queda de braço com seu parceiro de dupla 5+5. Genaro Soalheiro morreu em 1997, ano em que produziu pela última vez o disco de sambas-enredo do Especial do Rio. NOTA DO SAMBA: 10 (Mestre Maciel).

A chegada de David Correa para a Portela foi extremamente polêmica. A escola buscava novos talentos em outras "bandas", o que não deixava muito felizes portelenses célebres, como Candeia e Paulinho da Viola. David foi uma dessas apostas, vencendo o samba-enredo de 1973, apenas um ano após sua entrada na ala de compositores da escola. Entretanto, a primeira obra extraordinária do compositor, em parceria com o excelente Norival Reis, autor de grandes sambas na União de Jacarepaguá durante os anos 70, foi esta preciosidade. O samba - num estilo mais clássico do que costumam ser as obras do compositor - tem um refrão principal irresistível e uma letra bem construída. A melodia também é mais pesada do que costumam ser as que têm a marca registrada "David Correa". "Macunaíma" foi a aposta dos produtores do LP para sucesso do ano, tanto que abriu o disco; entretanto a Portela começava um processo autodestrutivo, que ficou feio com a escolha do samba de 1974, intensificou-se mais ainda com a de 1978 e culminou de vez com o nascimento da Tradição, em 1984. Desde então, a Portela não consegue fazer um desfile a altura da potência que é. Mas este samba é um primor, tanto que foi regravado e eternizado por Clara Nunes, num casamento samba-enredo/MPB que é praticamente impossível nos dias de hoje, fato este que torna os sambas cada vez mais distantes do público em geral. NOTA DO SAMBA: 10 (João Marcos).

Preciso falar alguma coisa? "Macunaíma" é um dos cinco melhores sambas-enredo da Portela, Estandarte de Ouro de 75! Muito dançante! Uma obra capaz de empolgar a mais triste das pessoas. E é preciso deixar claro que é um samba verdadeiro, e não uma marcha-enredo. Coisa que o mestre David Correa sabe fazer de melhor é um samba-enredo autêntico e animado ao mesmo tempo. Considero este o segundo melhor samba dele, atrás de "Das maravilhas do mar, fez-se o esplendor de uma noite" (1981). O refrão principal (o carismático "Vou me embora, vou me embora/Eu aqui volto mais não" [...]) é um dos melhores da história do carnaval! O refrão central, de melodia meio "enforrózada" e de canto ligeiro, também é de deixar qualquer um com "brilho nos ouvidos" (seria brilho nos olhos, né?). Outra parte que também é de deixar qualquer um de queixo caído é "Cy, a rainha mãe do mato, oi/Macunaíma fascinou/Ao luar se fez poema/Mas ao filho encarnado/Toda maldição legou". Sua melodia é uma graça, com variações brilhantes. Enfim, uma obra-prima excelente de dois compositores excelentes. Samba-enredo realmente perfeito, um clássico de emocionar! O seu intérprete é excelente (apesar de soltar uns cacos meio toscos na segunda passada) e acaba por deixar a obra num tom mais lírico. Genaro Soalheiro é um bom cantor. No CD de Jamelão, foi eternizado na voz do Mestre, versão que também consta na caixa "Voz do samba". NOTA DO SAMBA: 10 (Gabriel Carin). Clique aqui para ver a letra do samba

2A - MOCIDADE - Seu ponto forte é a doce melodia, quase infantil. Também bastante simples, ela é refrorçada por uma letra bastante poética. No começo da segunda passada do samba, é possível ouvir um assobio que se assemelha ao lendário canto do uirapuru. O refrão central é delicioso "E quem ouvir o seu cantar/Abraça a sorte, afasta o azar" e o último ganha um tom mais lírico "Eu acordei no seu canto original/Radiante de alegria porque era carnaval". Grande momento da Mocidade do saudoso intérprete Ney Vianna. NOTA DO SAMBA: 9,6 (Mestre Maciel).

A escola, que até o fim dos anos 60 era uma bateria cercada de ala por todos os lados, começou a se preocupar mais com samba-enredo nos anos 70. Depois de "Rapsódia da Saudade" (1971) e "Festa do Divino" (1974), apresentou mais um belo samba com "O Mundo Encantado do Uirapuru". Apesar de não estar no nível dos dois sambas citados, a obra tem qualidades inegáveis - uma melodia envolvente e uma letra simples, com toques poéticos que não se encontram nos sambas atuais. O refrão do meio, onde as sílabas são cantadas de forma bem marcada, ressaltando a melodia, é um achado. Com certeza, ajudou a escola a furar novamente a barreira das quatro grandes, com um quarto lugar, o que era um feito considerável na época. NOTA DO SAMBA: 9,2 (João Marcos).

"Mundo fantástico do Uirapuru" é um dos sambas-enredo mais líricos do carnaval carioca. Tem até um refrão principal animadinho, mas no geral é uma obra muito clássica. A letra é simples e microscópica, mas cheia de beleza. Mas é a melodia que chama atenção. Tem variações impressionantes, causando um verdadeiro impacto no ouvinte. A parte que realmente é excepcional é "E no alto do meu sonho/O uirapuru surgiu", cujas alongadíssimas notas nas palavras "sonho" e "surgiu" foram muito bem-feitas, um perfeição só. Para você que ainda não ouviu e não sabe do que eu falo, deve ser mais ou menos assim: "E no alto do meeeeu sooooooooooooonho/O uirapuru suuuuuuuuuuurgiu". Uma pérola quase nunca vista em sambas-enredo, principalmente nos da Mocidade. E ele saiu mais forte ainda na regravação do Mestre Jamelão. Sua ausência na Coletânea Sony é decepcionante. Ney Vianna, como sempre, incomparável. Destaque para os dizeres de Ney na segunda passada, pedindo atenção do ouvinte para o refrão "E quem ouvir o seu cantar/Abraça a sorte, afasta o azar". NOTA DO SAMBA: 10 (Gabriel Carin). Clique aqui para ver a letra do samba

3A - VILA ISABEL - Antigamente eram comuns sambas-enredo de letra curta e melodia simples. Este samba da Vila, que se enquadra perfeitamente nestas duas qualidades enumeradas, possui dois refrões adoráveis. É um samba bastante simplório. NOTA DO SAMBA: 8,9 (Mestre Maciel).

O traumático desfile de 1974 fez a Vila caprichar no ano seguinte, apresentando um enredo sobre o teatro brasileiro. A escola recuperou seu lugar, conquistando um bom o sexto lugar. O samba é simpático, simples, mas sem grandes momentos. Passa batido no LP, principalmente depois das duas pedradas que iniciam o disco. Foi regravado por Jamelão em disco solo, em faixa com um pouco mais de vida, mas que não tira o gosto insosso da obra. NOTA DO SAMBA: 7,5 (João Marcos).

Samba-enredo minúsculo! Tem um andamento meio lento, mas tem um brilho bem notável. A letra é muito simples, mas tem momentos adoráveis, como o refrão central. A melodia também é simples e bem-feita. Só achei que o refrão principal infeliz, sem rimar com nada no final. Veja: "Tenho beleza, sou a esperança/Trago alegria/Neste dia de folia, oi". O "oi" poderia ser certamente descartado e poderiam trocar a palavra "folia" por algo que rimasse com "esperança", como "festança" ou algo melhor. Está anos-luz de ser uma samba magistral, como muitos que a agremiação sabe fazer muito bem, mas é uma bela obra. NOTA DO SAMBA: 9,3 (Gabriel Carin). Clique aqui para ver a letra do samba

4A - UNIÃO DA ILHA - 1975 foi o ano de estréia na elite do carnaval daquela que seria uma das mais simpáticas e carismáticas agremiações do carnaval: a União da Ilha do Governador. Nos seus primeiros anos entre as grandes, a União da Ilha adotaria a característica de desfiles bons, bonitos e baratos, acompanhados por sambas primorosos. "Nos Confins de Vila Monte" fez a Ilha estrear no Grupo Especial com chave de ouro em termos musicais. O samba é cantado quase que inteiramente em formato de trova e, por sua beleza original, é uma das músicas campeãs nas minhas cantorias de chuveiro. Um primor de samba-enredo, sem dúvida alguma! NOTA DO SAMBA: 10 (Mestre Maciel).

"Nos Confins de Vila Monte", primeiro samba cantado pela União da Ilha no grupo principal, é um dos grandes sambas da história da escola, tendo sido considerado pelos críticos da época o melhor samba do ano. Interessante notar que apesar de simpático, o samba é bem clássico. Não tem nada de animadinho ou oba-oba, apesar de não ser pesadão. No LP, só faltou Aroldo Melodia. NOTA DO SAMBA: 9,7 (João Marcos).

Uma obra muito boa, de letra potente e melodia emocionante. Um grande samba da escola no seu primeiro ano no primeiro grupo. Vale a pena realçar que a obra tem apenas um único autor. O coral canta muito bem a obra, dando um arzinho meio animado. Tem um excelente refrão. Enredo é passado com perfeição. Uma das partes que eu mais gosto é a dolente "Numa união de sangue/Num adeus a despedida/Nhá Branca deu a Bento/Seu amor pra toda vida/Velho Coroné Tunico/Num ataque traiçoeiro/Transformou menino Bento/Num temível cangaceiro". Sinistro!!!! Só é uma pena que a União da Ilha não tinha ainda sua verdadeira identidade: Aroldo Melodia! Consta na Coletânea Sony na voz do Mestre Quinho. NOTA DO SAMBA: 9,9 (Gabriel Carin). Clique aqui para ver a letra do samba

5A - BEIJA-FLOR - Não é a toa que a Beija-Flor era considerada, na época, a escola do governo. Se, no ano anterior, a agremiação de Nilópolis dizia que os feitos alcançados pelo governo militar fariam do Brasil um país promissor, em 1975 a Beija exaltava com galhardia "o grande decênio", em "comemoração" aos dez anos do comando pelos militares do nosso país. Tais enredos de exaltação à ditadura eram, sem dúvida, um exemplo primordial de enredo patrocinado, pois na letra deste samba consta órgãos criados pelos militares como Pis-Pasep, Funrural e Mobral. Afinal, é samba-enredo ou jingle político? Francamente... E a melodia deste samba é meia-boca também! Este desfile foi o último da Beija-Flor como escola pequena, já que Joãosinho Trinta e o bicheiro Anísio a revolucionariam no ano seguinte. Um detalhe que o autor do samba de 1975 e seu intérprete no disco Bira Quininho tem uma voz parecida com a de Neguinho, que assumiria o microfone oficial da escola em 1976 e não o largaria mais. NOTA DO SAMBA: 8,6 (Mestre Maciel).

A maior mancha da história da escola é este samba pavoroso, homenageado a ditadura. Enquanto milhares de jovens eram presos e torturados por um regime opressor, que censurava os meios de comunicação e alienava a população, a escola se segurava no grupo principal servindo como instrumento de propaganda do regime militar. Se em 1974, a escola disfarçou o seu objetivo, projetando um Brasil forte no futuro, o samba de 1975 é uma exaltação explícita e direta a um dos períodos mais terríveis da nossa história. E tudo isso ao som de um samba terrível, um jingle da pior espécie, exaltando o PIS, o PASEP, o FUNRURAL, o MOBRAL... Uma vergonha. Felizmente, Joãozinho Trinta foi para Nilópolis no ano seguinte e a Beija-Flor virou essa instituição admirável dos nossos dias. Mas a mancha de sua história está lá e não pode ser varrida para debaixo do tapete. NOTA DO SAMBA: 3,9 (João Marcos).

O último desfile "do" Beija-Flor de Nilópolis antes da grande revolução estética liderada pelo gênio João Trinta, que mudaria para sempre os rumos do carnaval carioca. Porém, ainda precedendo esta ocasião, a escola continuava a ser um inadmissível veículo de merchandising do regime militar, mesmo reconhecendo claramente que essa ideologia partia não da agremiação como um todo, mas sim de forma direta da diretoria da escola, em especial do presidente Nelson Abraão. Quanto à marcha de Bira Quininho, chega a ser impressionante sua falta de estrutura. A letra, além de conter os inacreditáveis “É de novo Carnaval/Para o samba este é o maior prêmio” ou “O Beija-Flor vem exaltar/Com galhardia/O Grande Decênio”, faz questão de exemplificar toda “magnitude” e “imponência” do regime militar através de citações literais (que horror!) das metas e programas políticos criados por tal governo, como PIS, PASEP, FUNRURAL e MOBRAL. A melodia é bizarra, com variações estranhas e que possui um andamento muito esquisito no LP. Enfim, um legítimo jingle de patrocinador, além de segundo pior samba da história da Beija-Flor, ganhando somente do hino de 1973. NOTA DO SAMBA: 5,5 (Gabriel Carin). Clique aqui para ver a letra do samba

6A - IMPÉRIO SERRANO - O samba da Império de 1975, conhecido pelo refrão do baleiro-bala, é pequeno e simples demais, embora tenha uma boa melodia. Até hoje os imperianos choram a derrota nas eliminatórias do samba que se consagraria na voz do imortal Roberto Ribeiro batizado de "Estrela de Madureira". NOTA DO SAMBA: 9,1 (Mestre Maciel).

A escola optou por este samba, um dos mais empolgantes da história do carnaval carioca, em uma eliminatória que contava também com o belíssimo "Estrela de Madureira", depois gravado no LP do intérprete da escola, Roberto Ribeiro. Qual das duas obras é melhor? As duas são excepcionais e totalmente diferentes entre si. O lirismo do samba de Roberto Ribeiro poderia ter gerado um desfile emocionante, daqueles que a Serrinha sabe fazer muito bem; entretanto, o samba de Alvarese, um dos baluartes do Império, é fascinante. No site da escola, tem um vídeo do desfile que mostra a impressionante comunicação da escola com o público, a empolgação de quem assistia com o que estava sendo apresentado. E muito disso se deu por força deste grande samba, super curto, todo construído para explodir no refrão, que é de uma força impressionante. Coisa de craque. NOTA DO SAMBA: 9,8 (João Marcos).

Este samba é fantástico, o melhor da "era Fernando Pinto". O Império homenageou Zaquia Jorge, uma vedete que largou a ostentação dos palcos para fazer funcionar um teatro em Madureira. O enredo sobre a dançarina rendeu um belíssimo samba, de letra inteligente e melodia contagiante. Seus refrões são fantásticos, especialmente o "Outra vez se abre o pano/Pra todo o céu suburbano/Ver sua estrela brilhar". O desfile, para os especialistas, foi um dos mais perfeitos da escola. Sua ausência na Coletânea Sony é meio estranha, já que os pesquisadores que escolheram a dedo as faixas e todos eles, principalmente o jornalista Sérgio Cabral, adoram este samba. O lírico "Estrela de Madureira", do mestre Roberto Ribeiro, perdeu nas eliminatórias para este samba de Avarese. Depois, foi regravado pelo próprio em um disco solo. Concordo com o comentarista João Marcos que é realmente uma tarefa difícil decidir qual dos dois é o melhor. Esta obra-prima do Roberto, junto com "Ai, que saudades que eu tenho" (Vila Isabel-1977) de Martinho da Vila, é o melhor samba-enredo eliminado da história. O intérprete nunca gravou os discos de sambas-enredo, mas o cantor desta faixa faz lembrar muito a voz dele. NOTA DO SAMBA: 10 (Gabriel Carin). Clique aqui para ver a letra do samba

1B - MANGUEIRA - No disco, recebe uma brilhante interpretação de Sobrinho. É uma verdadeira obra-prima da verde-e-rosa, de melodia primordial e uma excelente letra. Para mim, se resume em um dos cinco melhores sambas mangueirenses da história essa homenagem ao poeta alagoano Jorge de Lima. NOTA DO SAMBA: 10 (Mestre Maciel).

Um belo samba, onde os compositores conseguem passar com grande clareza e poder de síntese a vida e a obra do esquecido poeta Jorge de Lima, um dos pilares do modernismo na literatura brasileira. Interessante é que o poema "Essa Negra Fulô", de Jorge de Lima, foi o tema da escola Tupy de Brás de Pina no ano anterior, quando a escola faturou o Estandarte de Ouro de melhor samba do acesso. O Estandarte de 1975 do grupo principal ficou com a Portela, mas o samba da Mangueira não fica devendo muito. Só falta um refrão final mais forte, que é obrigatório em sambas curtos como este. NOTA DO SAMBA: 9,1 (João Marcos).

Um dos sambas-enredo mais bem-feitos da verde-rosa! Tem uma letra simples e clara. Sua melodia é adorável, cheia de variações interessantes. Ambos refrões são excelentes, sendo o central ("Ô, ô, ô, ô/Esta é a nega Fulô/Uma obra fascinante/Que o poeta tão brilhante/O povo admirou") a melhor parte da obra. Um clássico da Mangueira, que ficou mais conhecido ainda depois do desfile extraordinário da agremiação, que ganhou inclusive Estandarte de Ouro de melhor escola. Ajudou, com certeza, a levantar o vice-campeonato da Velha Manga. Sobrinho se saiu muito bem no LP. NOTA DO SAMBA: 9,6 (Gabriel Carin). Clique aqui para ver a letra do samba

2B - SÃO CARLOS - O que dizer de "Festa do Círio do Nazaré", esse clássico vencedor do Estandarte de Ouro de melhor samba em 1975 e que encantou no carnaval de 2004 cantado pela Viradouro? O clamor "Oh Virgem Santa/Olhai por nós..." nunca mais saiu de nossas memórias, com sua adorável letra que mistura a tradição do Círio com os costumes do Pará (meu estado natal) e sua doce melodia. Um dos melhores sambas de todos os tempos! NOTA DO SAMBA: 10 (Mestre Maciel).

"Festa do Círio de Nazaré" compete com "Rio Grande do Sul na festa do Preto Forro" pelo título de melhor samba da história da Unidos de São Carlos/Estácio de Sá. E é o melhor samba enredo defendido pela Unidos de Viradouro em sua história, que o reeditou em 2004. É brilhante, com uma letra descritiva e uma melodia que vai envolvendo até chegar ao lindíssimo refrão do meio, o clímax da faixa e um dos momentos mais inspirados da história do gênero samba enredo. Quando você escuta o "Oh, Virgem Santa, rogai por nós", não há como não ficar arrepiado. Lindíssimo. Como curiosidade, cabe o registro de que no disco da TAPECAR, o samba foi interpretado por Elza Soares. NOTA DO SAMBA: 10 (João Marcos).

"Oh! Virgem Santa/Olhai por nós/Olhai por nós/Oh! Virgem Santa/Pois precisamos de paz!". Fantástico! Uma obra-prima que se tornou famosíssima depois da reedição de 2004, graças ao seu mágico refrão central. "Festa do Círio de Nazaré" é um samba inspirado, de melodia envolvente e letra admirável. Um enredo desse numa escola promissora, como era o Estácio (São Carlos) na época, só podia dar boa coisa. Outro trecho que chama atenção é "Em torno da Matriz/As barraquinhas com seus pregoeiros/Moças e senhoras do lugar/Três vestidos fazem pra se apresentar/Tem o circo dos horrores/Berro-Boi, roda Gigante/As crianças se divertem/Em seu mundo fascinante". Lindo! Só uma correção ao Mestre Maciel: este samba não ganhou o Estandarte de Ouro, e sim "Macunaíma" da Portela. NOTA DO SAMBA: 10 (Gabriel Carin). Clique aqui para ver a letra do samba

3B - IMPERATRIZ - Este samba possui um tom quase que fúnebre, já que seu enredo realmente combina com tal tom: "A Morte da Porta-Estandarte". De melodia lírica, é um samba-enredo, na minha opinião, muito chato. Um dos piores da história da Imperatriz! É cantado no disco por Jorge Goulart. NOTA DO SAMBA: 8,2 (Mestre Maciel).

O enredo, baseado no conto de Aníbal Machado, deu origem a um samba equivocado, fúnebre, bizarro. Nada do clima poético do texto foi aproveitado pelos compositores, que optaram em descrever a morte da porta bandeira Rosinha de forma direta e piegas. Enquanto no conto, Rosinha "dorme", os compositores colocaram no samba os inacreditáveis versos "Levanta Rosinha, vem sambar/ela já não está presente...". Para deixar a coisa mais impactante, a Imperatriz chamou o veterano Jorge Goulart, que abusando dos vibratos e da interpretação afetada, tornou ainda mais mórbida a faixa, que ficou muito estranha. NOTA DO SAMBA: 5,2 (João Marcos).

Chega a ser impressionante o modo como os compositores esnobaram completamente a riqueza poética do conto escrito por Aníbal Machado, “A morte da porta-estandarte”, cuja leitura, por sinal, recomendo. A letra do hino é absurda! É notável como os compositores tentaram transpassar de forma clara o conteúdo do texto, mas acabaram por meramente amontoar inúmeros substantivos e adjetivos constados no conto, gerando um “bololô” terrível. Além disso, o samba fala explicitamente da morte de Rosinha, sem qualquer adorno poético que possa disfarçar essa lamentação. A melodia, extremamente fúnebre ainda por cima, contém uns erros técnicos como a mudança constante de sua velocidade, já que muitas vezes o samba está sendo cantado lentamente e do nada, fica acelerado. A única parte do samba que chega a me agradar é o refrão “Ôô ôô/Ao longe um cantar dolente/Levanta Rosinha, vem sambar/Ela já não está presente”, que, apesar da letra incrivelmente mortuária, possui uma melodia correta. Por fim, a horrenda interpretação de Jorge Goulart chega a causar pavor nos bambas. No geral, o samba está mais morto que a própria Rosinha. NOTA DO SAMBA: 6,4 (Gabriel Carin). Clique aqui para ver a letra do samba

4B - UNIDOS DE LUCAS - Samba de letra comprida e de esporádicas variações melódicas, o que faz eu considerar também um samba-enredo chato! Deve ter se arrastado na avenida, o que levou o Galo de Ouro ao penúltimo lugar no desfile de 1975. Sorte que, neste ano, não teve rebaixamento. NOTA DO SAMBA: 8,3 (Mestre Maciel).

Samba muito longo e cansativo. A escola, falando das cidades mais tradicionais de Minas, apresentou uma obra cujo arrastamento já é perceptível com a audição da faixa do LP. Poucas variações melódicas e uma letra sem grande inspiração faz desta a faixa mais chata do disco, uma vez que sequer a qualidade "trash" dos sambas de Beija-Flor e Imperatriz está presente. Muito ruim. NOTA DO SAMBA: 5,9 (João Marcos).

Baianinho, também autor dos sambas da Em Cima da Hora dos dois anos anteriores, errou feio na mão ao tentar compor o hino da Unidos de Lucas de 1975. Embora o enredo seja inegavelmente interessante, infelizmente acabou gerando um samba lastimável, cujo nível de horrorosidade chega a causar medo e aflição no ouvinte. A letra, extremamente extensa, é de uma irritabilidade incrível. A melodia é completamente reta, desprovida de qualquer tipo de beleza artística ou emocional. Para mim, parece que esse hino tenta reutilizar a fórmula dos sambas-lençol da década de 60, uma vez que, nos anos 70, virou marca registrada os sambas possuírem letra curta, melodia fácil e uma grande funcionalidade na avenida. De qualquer forma, a idéia foi muito mal-sucedida e “Cidades feitas de memórias” tornou-se irremediavelmente esquecível. Some isto tudo a voz desastrosa do limitado Ledi Goulart, que você encontrará essa faixa horrenda. Enfim, o pior e mais chato samba do LP! Até o samba da Imperatriz, que fala de morte, consegue ser divertido. NOTA DO SAMBA: 4,6 (Gabriel Carin). Clique aqui para ver a letra do samba

 

5B - EM CIMA DA HORA - Seu refrão principal é adorável "É Praça Onze/É pierrô e colombina/Arlequim e serpentina/Tia Ciata, a sambar" e o encerramento do samba (de letra curta) com o refrão "Olê Olê/Olê Olá/Sociedades, minha gente/E o Ameno Resedá" lembra bastante as marchinhas clássicas de carnaval. A Em Cima da Hora levou para a avenida em 1975 um samba bastante animado. NOTA DO SAMBA: 8,8 (Mestre Maciel).

Mais um samba fraquíssimo do ano de 1975. Impressionante como as "bombas" da safra foram colocadas no final do disco, uma seguida da outra. A letra é de uma obviedade e falta de inspiração irritante, enquanto a melodia indigente passa despercebida. Toda vez que o samba tenta uma pequena variação melódica, por exemplo, quando sai do refrão principal e entra na primeira parte, a coisa soa feia, mal feita. Por fim, o refrão final, com o seu "Olê Olê/Olê Olá", soa forçado e sem inspiração, uma pífia tentativa de fazer um refrão fácil para o público cantar com a escola. A Em Cima da Hora foi a última colocada e se salvou por não ter rebaixamento em 1975. Em 1976, traria o samba mais perfeito da história do carnaval carioca. Mas este aqui é lastimável. NOTA DO SAMBA: 5,4 (João Marcos).

Marchinha agradável. A letra é curta, de fácil memorização, fato típico dos anos 70. O refrão "É Praça Onze/É pierrô e colombina/Arlequim e serpentina/Tia Ciata a sambar” é incrivelmente simples, no entanto possui uma melodia marcante, cuja ligeireza é de um agrado intenso, um verdadeiro achado do compositor. Em contrapartida, o outro refrão, embora não irrite, é bastante simplório, contendo ainda apelativos “Olê olê, olê olá”. A melodia das demais partes agrada sem causar grandes impressões. É um samba bem simpleszinho, mas eu particularmente gosto. Porém é óbvio que não tem nem comparação com o que viria no ano seguinte. NOTA DO SAMBA: 8,2 (Gabriel Carin). Clique aqui para ver a letra do samba

6B - SALGUEIRO - O samba da escola campeã do carnaval, fruto da primeira junção da história da folia (realizada por Laíla, que também canta a faixa no disco), é pouco comentado entre os bambas. Mas, para mim, trata-se de um samba-enredo sensacional, de melodia rica, lírica e emocionante. O trecho "E da Fenícia veio o rei Iran/Em galeras alcança as terras das amazonas/Que sensação, que esplendor/A natureza em flor" é de emocionar. É um samba-enredo que, quando toca por aqui, repito umas cinco vezes sem me cansar de ouvir. Grande momento na história salgueirense! NOTA DO SAMBA: 10 (Mestre Maciel).

Cantado no LP por Laíla, autor da fusão entre dois dos sambas concorrentes, a primeira da história do carnaval carioca, a faixa fecha bem o disco de 1975. A melodia é o ponto alto, com suas subidas e descidas inesperadas. Tem uma estrutura complexa, rara nos sambas da época. O refrão principal não é muito forte, mas combina com o clima do resto da obra. O samba não foi primordial para a conquista do bicampeonato da escola, uma vez que ela, que contava até então com Joãozinho Trinta, priorizava a parte visual, o que acabou mudando o foco da avaliação do desfile das Escolas de Samba. Mas é um samba muito bom e, como se pode perceber pela conquista do título de campeã, não comprometeu o desfile em nada. NOTA DO SAMBA: 9,4 (João Marcos).

Sabem o que eu acho de "O segredo das minas do Rei Salomão"? O segundo melhor samba-enredo da história do Salgueiro (atrás de "Dona Beija" de 1968). Sua letra é perfeita, com entrosamento perfeito com a brilhante melodia (e põe brilhante nisso!). Samba de um ar bem antigo, apesar de ter sido feito há apenas 32 anos atrás. O que dizer do trecho "E da Fenícia veio o rei Iran/Em galeras alcança as terras das amazonas/Que sensação, que esplendor/A natureza em flor"? Riquíssimo! Maravilhoso! Lirismo puro! Além disso, o refrão "E o sol nascendo vem clarear/O tesouro encantado que o rei mandou buscar" é linda. Fecha muito bem o vinil. O enredo tem a cara de Joãosinho Trinta, sempre esbanjando ostentação e beleza. É muito bom ouvir a voz de Laíla no disco, principalmente sem essa voz roca que ele tem hoje. Quem vê hoje esse nilopolitano resmungão, metido a esperto, jamais imaginou que ele defenderia com tanta garra um samba salgueirense. O atual diretor de harmonia da Beija-Flor, assim como Joãosinho 30 e outros salgueirenses, brigaram com a escola e foram expulsos. No mesmo ano, foram contratados pelo bicheiro Anísio, fizeram carnaval na Beija-Flor e foram campeões, mudando por completo os rumos do carnaval carioca. Ao contrário do João e dos demais nilopolitanos, ele guardou mágoa do Salgueiro e hoje prefere que esta fase de sua vida nunca tivesse existido. Este samba-enredo não fecha apenas o LP, mas também uma era do carnaval carioca! Voltando ao assunto do samba, ele realmente é uma obra-prima e sua ausência na Coletânea Sony é algo muito absurdo (apesar de ter ficado de fora por falta de espaço). Só para constar, "O segredo das minas do Rei Salomão" é de longe o melhor samba do meu disco do Mestre Jamelão. Ouvir uma obra-de-arte dessa na voz de Jamelão não dá para recusar! Por isso, disponibilizei o álbum completo para Download aqui no site. NOTA DO SAMBA: 10 (Gabriel Carin). Clique aqui para ver a letra do samba

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