E tudo começou com uma pequena idéia...
Olá amigos
CHmaniacos! Estou aqui para mais uma coluna temátiCHa. E nesta
ocasião, vamos falar das mil e uma maneiras de se desenvolver um
único script.
Bem, como todos
sabem, Chespirito gravou, regravou, tregravou e até quadregravou
episódios. Muitos (inclusive eu) reclamam das inúmeras versões
dos episódios que Chespirito fez. Alguns chegam até a
questionar se o retorno de todos os episódios denominados “perdidos”
é realmente necessário, uma vez que a maior parte deles são
primeiras, segundas e / ou até terceiras versões de episódios
atualmente exibidos.
Bem, nesta coluna
iremos analisar se realmente os episódios regravados são
realmente descartáveis, ou se têm a sua devida importância no
conjunto da obra.
Em 1972, Chespirito
havia acabado de criar a personagem “Chaves”. Não se
sabe ao certo se foi o episódio piloto da série, mas como é o
mais antigo de todos os episódios conhecidos, acabou sendo tido
como tal. Estou referindo-me claro, ao episódio “O homem da
roupa velha, versão 1”. O episódio acabou virando lenda
entre os CHmaniacos ao se tornar perdido no Brasil em 1992 (foi
exibido por quatro anos, ou seja, teve sua estréia em 1988).
O episódio dura
cerca de oito minutos e gira em torno do fato de a Chiquinha não
querer tomar um remédio cujo gosto era amargo. Seu pai (Seu
Madruga) a ameaça dizendo que se não tomar o remédio, será
levada pelo famoso e temido roupa-velha. Por coincidência
aparece na vila um homem humilde vendendo roupas e sapatos
velhos. Chiquinha liga a ameaça do pai à presença do pobre
homem na vila e fica com muito medo, pedindo ajuda a Chaves para
que não permita que a levem. Chaves também confunde a situação
e apronta todas contra o homem.
Chiquinha,
assustada, acaba aceitando tomar o remédio, porém, quando
Madruga chega com o frasco, acaba sem querer dando o remédio a
Chaves.
No fim, o
roupa-velha percebe a confusão que Madruga está criando em
torno da situação e resolve se entender com ele fora da vila;
e, o episódio termina com um célebre diálogo rápido entre
Chiquinha e Chaves:
Chiquinha: “(...)
Você viu isso, Chaves?”
Chaves: “Sim.
Os papais que se comportam mal são roubados pelo roupa-velha!”Aproximadamente dois anos e meio depois,
este pequeno sketch (insignificante para alguns; lenda para
outros), rendeu um episódio de uma hora (dividido em três
partes).
• “O velho do saco, parte
1”
• “A bola de boliche,
parte 2”
• “Quem descola o dedo da
bola, parte 3”
O episódio também foi exibido pelo SBT e se tornou perdido no
mesmo ano em que também sumiu sua versão anterior. Este
episódio contava com uma parte muito maior do elenco, pois, nele
já se encontravam:
1. Florinda Meza
2. Carlos Villagrán
3. Edgar Vivar
O episódio trouxe muitos diferenciais. Além da notável
esticada na duração, desta vez quem vendia e comprava roupas e
artigos usados, era Seu Madruga. Porém, alguém não estava no
elenco. Esta pessoa era “Maria Antonieta de Las
Nieves”, a Chiquinha. A atriz havia saído do seriado há um
ano por motivos até hoje controversos. Chespirito não se
contentou de a versão de uma hora da história não contar com a
presença da atriz e, em 1978 regravou o episódio mais uma vez,
agora sim, com o elenco completo. Mais uma vez o episódio
possuía três partes, somando 60 minutos e com algumas piadas
acrescidas e mais bem elaboradas. Inclusive, acrescentou às duas
versões de uma hora, um enredo em torno de uma bola de boliche,
até então inédito no roteiro original de 1972.
Um fato interessante que também envolve o velho sketch
“Homem da Roupa Velha”, é que não somente rendeu as
duas sagas de uma hora, como também, uma das piadas centrais,
rendeu, ainda em 1976 alguns minutos de boas risadas no episódio
“A galinha da vizinha é mais gorda do que a minha”. No
episódio, Chiquinha está doente e seu pai tenta lhe dar um
remédio de gosto ruim. E, todos acabam tomando o remédio,
menos... claro, a própria Chiquinha, que era quem o necessitava.
Essa piada não fora utilizada em nenhuma das duas versões de
uma hora do episódio “O velho do saco”, mas Chespirito
aproveitou-a muito bem no citado episódio.
Analisemos outro caso! Entre 1970 e 1972 (não se sabe ao certo o
ano), Chespirito gravou um episódio (hoje conhecido do público
brasileiro através da “Amazonas Filmes”), intitulado
“O vazamento de gás”, com pouco mais de dez minutos de
duração. O episódio conta a história de uma casa onde mora um
avô com sua netinha e por algum motivo desconhecido, o gás
explode. É ordenado que todos saiam de lá antes que a casa
acabe de desabar. O velho avô se recusa a sair de lá dizendo
que lá nasceu e lá irá morrer. No fim, acabam convencendo-no
de sair, mas não dá tempo, pois a casa começa a cair parede
por parede e o episódio termina.Em 1975, Chespirito aproveitou parte da idéia
deste sketch quase esquecido e ressuscitou piadas no episódio
“Sai de baixo que lá vem pedra”. No episódio, um
velho cientista, leva sua filha para morar num local onde caem
chuvas de aerolitos. Quando ocorre uma das maiores
chuvas que já se viu no local, tudo é destruído e o pouco que
sobrou de pé, cairia a qualquer momento. O cientista se recusa a
abandonar o local sob o pretexto de procurar seu caderninho de
notas que, ao final, descobre-se que esteve todo o tempo em seu
próprio bolso. O episódio teve vinte minutos de duração.Um ano depois, a outra parte do sketch
foi aproveitado em uma versão integral (vinte minutos) para o
episódio “O vazamento de gás”. A versão foi bem
aprimorada e acrescida de piadas maravilhosas; dando destaque
para a explosão final, quando Chapolin acende um fósforo dentro
do forno d’onde o gás escapava.
Para não esticar muito a
coluna, vamos falar de um ano marcante: 1974. Esse foi o ano em
que a Maria Antonieta de Las Nieves (como já citado), a
intérprete da Chiquinha ficou fora dos seriados. Coincidência
ou não, 99% dos episódios desta temporada foram regravados a
partir de 1975 com a atriz de volta ao elenco.Na verdade, o primeiro episódio já sem
a Chiquinha foi o último da temporada de 1973, o famosíssimo
“A pichorra”, porém, como foi somente este,
oficialmente, a atriz saiu da série em 1974, retornando em 1975
(ainda em 1975 foram gravados cinco episódios sem ela).Um fato também marcante nas
regravações dos episódios, é que um episódio pôde recuperar
sua continuação; pois, em 1974, foi gravada a primeira versão
do episódio “Seu Madruga sapateiro”, com duas partes
de 20 minutos cada. A parte 2 do episódio simplesmente
desapareceu do mapa. O ano em que isso ocorreu é um mistério,
mas com certeza foi antes de 1984, pois fontes afirmam que no
citado ano, o episódio foi exibido uma única vez em telas
brasileiras, porém, contando apenas com a parte 1, e como ainda
hoje, o episódio é visto em TV’s internacionais, nessa
mesma condição, dá-se a entender que a matriz (TELEVISA) deve
ter perdido o episódio sem ter tido tempo hábil de distribuir a
nenhuma TV do próprio México ou internacional.Porém, nem tudo foi velório para o
episódio. Quatro anos depois, Chespirito regravou o episódio,
desta vez com três partes (uma hora), contando com a presença
de Maria Antonieta. Pelo andar da parte 1 da versão 1, com
certeza o desfecho da mesma, deve ser o mesmo da versão 2, ou
seja, o fato de a conclusão da versão original haver se
perdido, deixa de ser um grande problema, pois a versão 2 veio
com tudo e de certa forma reparou a perda. Claro, um episódio é
sempre um episódio, principalmente quando se tem mais de trinta
anos de gravado. É um relíquia absoluta que não deveria ter
desaparecido, mas já que ocorreu, nos contentemos com a versão
mais conhecida do grande público.
O ano de 1974 também teve
lá suas particularidades. Entre outras, foi o único ano em que
“Martha Zabaleta”, “Angel Roldan” e
“María Luisa Alcalá” deram as caras. Elas
participaram da primeira aula do Professor Girafales gravada.
Foram participações especiais. “María Luisa Alcalá”
ainda permaneceu na série em mais dois episódios. Era Malicha,
a afilhada do Seu Madruga.
Como podem ver, nenhum
desses episódios é descartável como muitos acreditam. Todos
têm seu potencial e sua particularidade. Às vezes uma piada
não acrescida na versão seguinte, ou às vezes a piada foi
acrescida para a versão seguinte, ou às vezes, como foi visto
acima, um sketch rendia idéia pra dois episódios posteriores.
Alguns atores coadjuvantes, como vimos no caso do primeiro
episódio escolar da série, fizeram presença em um único
episódio que anos depois foi regravado sem sua presença, com
outro(a) ator(riz) em seu lugar. Resumindo, todos os episódios
são importantes e devem ir ao ar sim. Se foi o caso de se
tornarem perdidos, mesmo que haja uma versão mais nova ou antiga
no ar, devemos lutar pelo seu retorno, sim.
Para terminar, vou citar um outro caso que caracteriza a
importância de uma outra versão para os episódios: finais
alternativos.
Em um episódio intitulado “O professor apaixonado”,
gravado em 1974, mostra uma confusão causada pelas crianças,
quando, por um mal-entendido, acham que o professor está
apaixonado pelo Seu Madruga e vice-versa. Nesta versão, o
episódio termina mal, pois quando Dona Florinda fica sabendo do
fato, esbofeteia o professor e, termina jogando as flores que ele
lhe trouxe, na lixeira. Em seu remake, gravado em 1977, a
história é a mesma, atentando para o fato de que o final, é
completamente diferente. O caso de alguma forma é esclarecido, e
o Professor termina feliz e contente, cantando uma bela canção
ao lado de sua amada; a Dona Florinda.
Outro caso, onde a mudança
do final é pequena, porém, genial, encontra-se no episódio
“O despejo do Seu Madruga”, gravado em 1974, onde o
Senhor Barriga despeja-o de casa junto à sua filha Chiquinha,
por não poder pagar o aluguel (devia-lhe 15 meses).No final, ao ver um álbum de
fotografias, que mostra velhas fotos de Madruga como boxeador,
lembra-se de que assistiu essa luta e que havia apostado tudo em
seu adversário. E, realmente Seu Madruga perdeu essa luta,
salvando o dinheiro do Barriga que tinha uma dívida enorme a
pagar e apostou toda a grana da dívida. Ao lembrar do fato,
diz a Seu Madruga que pode ficar com a casa e que não lhe deve
mais um centavo. E, tudo fica por isso mesmo.Na segunda versão do episódio, gravado
em 1978, ocorre exatamente o mesmo, com a diferença que contou
com a presença de Maria Antonieta, dobrou a metragem de vinte
para quarenta minutos e teve uma importante mudança no final, o
que o tornou bem mais emotivo que a versão original, pois desta
vez era mentira que o Barriga havia assistido à clássica luta
do Madruga. Desta vez ele os deixou ficar na casa, por ter um
coração que não lhe cabe no peito. Acompanhe o célebre
diálogo entre o Professor Girafales e o Senhor Barriga já fora
da casa do Seu Madruga, na segunda versão:
Professor Girafales:
“(...) Senhor Barriga! Me desculpe mas não pude evitar
de ouvir o que disse lá dentro; e, se não me engano, o senhor
me disse uma vez que nunca na vida havia assistido uma luta de
boxe.”
Senhor Barriga:
“Efetivamente! Eu nunca assisti uma luta de boxe.”
Professor Girafales:
“Mas então...”
Senhor Barriga:
“Professor! Se essa gente sair daqui; onde vão viver?
Hã!?”
Bem, espero que todos tenham
entendido a minha mensagem e, que passem a valorizar um pouco
mais a cada episódio da série, não importando se tem apenas
uma ou mil versões. Beijos a todos!
Eduardo Gouvea
(Valette Negro)
Créditos
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Fotos:
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Thomas
Henrique (Fotos cedidas ao “Chespirito.org”)
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Negro (Acervo pessoal)
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